domingo, 2 de setembro de 2007

Dúvida

Por Rodrigo Urban

Esverdeada relva aos meus pés,
Criada A partir do nada,
Feita A partir de tudo,
Sustentas o meu corpo,
Caído, ansioso por respostas,
Ansioso por soluções, por explicações,
Por ouvir certas opiniões.
Tentes me dizer,
Do que tu és feita,
Do que sou feito.
E pensas: vale apena,
Esconder segredo tão profundo,
Tão importante para o mundo,
De mim, um simples vagabundo?

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

Escuro

Por Rodrigo Urban

Quando o rio vira mar.
Quando o som está no ar.
Se a vida passar,
Sem ninguém notar.
Eu posso falar,
Eu posso gritar,
Eu vou estar...
Sozinho no escuro

Tão só,
Fadado a falar.
Somente gritar.
Quando ninguém notar
Que o som está no ar,
Que o rio vira mar.
Eu vou estar...
Acompanhado no escuro.

sábado, 4 de agosto de 2007

A Grande Festa do Rio de Janeiro

Por Rodrigo Urban

O maior evento poliesportivo já realizado no país, os jogos Pan-Americanos, serão realizados na cidade do Rio de Janeiro entre 12 e 29 de julho de 2007.
Uma grande festa. O maior número de atletas desde que este evento foi criado (5662 atletas) Serão disputadas 332 medalhas de ouro. Grandes expectativas para o Brasil em diversas modalidades. Empreendimentos vultuosos. Orçamento radicalmente inchado. E uma organização com falhas de dar inveja a qualquer país do mundo. Uma grande festa.
Para se ter uma idéia, o orçamento previsto inicialmete para a organização do evento era de 409 milhões de reais, altos custos, mas dentro da realidade. Até agora, dependo do que se inclua no orçamento (algumas obras provavelmente serão apresentadas como melhorias para a cidade) os gastos beiram os infímos 4 bilhões de reais. Isso mesmo, dez vezes mais do que o previsto. Grande parte desse orçamento veio do governo federal.
As obras ficaram prontas no mês do evento. Eram para estar prontas no começo do ano. Aí está um dos motivos para gasto tão enorme. Como estava com tudo atrasado, não houve tempo para o governo abrir licitações, não houve tempo para negociações. Resultado: foram contratadas grandes empreiteiras para construir o que faltava com pressa, e é claro que isso não seria feito por módicas quantias. Coitado do bolso sofrido do contribuinte brasileiro.
Fato estranho estranho também foi o motivo da construção do Estádio Olímpico João Havelange, já conhecido popularmente como Engenhão por localizar-se no bairro de Engenho de Dentro. Ele tem pista de atletismo, campo de futebol, capacidade para 45000 espectadores, custou a bagatela de 380 milhões de reais (sozinho levou quase todo o orçamento inicial!) e fica a, demorados, 15 minutos do popular Estádio do Maracanã. Seria ele realmente necessário para abrigar as competições esportivas? De qualquer forma é o maior chamariz da organização, a verdadeira propaganda para justificar os gastos. afinal de contas é uma estrutura realmente bonita, dispendiosa, mas bonita.
Realmente um evento para não ser esquecido cedo. Alguém se lembra do pan-americano de São Paulo, há 44 anos atrás ? Pois este do Rio será lembrado. Afinal de contas é a chance do Brasil mostrar ao mundo sua capacidade de organização.
Hoje estava vendo a abertura, houve um atraso de trinta minutos, sem explicações. Isso é organização

terça-feira, 10 de julho de 2007

Sofrimento - parte 4

Por Rodrigo Urban

A noite começava a cair. E Francisco não se agüentava mais de pé. Esforçava-se ao máximo para andar. Viu então algo que lhe deu forças, fez até mesmo esquecer a sede e a fome. Apertou o passo, quase corria. À sua frente a interminável subida parecia acabar, via-se uma espécie de topo, onde parecia que se iniciaria uma descida. Tinha certeza que era isso, não havia nada mais acima. Melhor tinha certeza que havia civilização logo ali, no começo da descida. Já podia escutar sons, ruídos, de pessoas falando, de carros passando, sentia até mesmo o cheiro de comida sendo feita. Comida para ele. Chegou ao topo.
Francisco caiu de joelhos ao chão. Impossível. Todas as dúvidas voltaram em um relance à sua cabeça. Quem eram seus pais, tinha pais? Onde trabalhava? O que estava fazendo ali, não sabia mais. Por que tudo o que ele viu tinha seu nome? Quanto tempo havia se passado, não fazia a menor idéia. O quê era aquilo à sua frente, o quê?
Olhou novamente para frente, um imenso vazio. A escuridão era total. Talvez um imenso abismo, talvez o nada absoluto. Onde ele estava de verdade? Começava a cair aos poucos no chão, apoiou os braços. O que fez até aqui? Deitou-se no chão. O vazio emitia os sons de uma cidade. O quê era isso? Quem era ele, realmente não sabia. Reuniu suas últimas forças, e apoiado nas suas últimas dúvidas ergueu-se e lançou-se naquele vazio no seu próprio vazio.

- Carlinhos volte aqui – chamava desesperadamente a mãe do menino, que corria sozinho na frente do grupo, sua mãe, seu pai, dois tios e o avô. O pequeno menino parou de repente atônito. Seu pai logo correu para ver o que acontecia. Um corpo jazia à beirada do riacho que corria no terreno plano. O grupo se chocou, não sabiam quem era, mas viam a dúvida e o desespero no rosto dele. Um dos tios correu para chamar o segurança do Horto da cidade. A mãe carregava Carlinhos, e acompanhava o resto dos visitantes para o carro, estava perto, afinal o Horto era extremamente pequeno. Esperaram o tio que faltava e partiram calados. Antes de ir passaram por um carro popular com os pneus murchos parado no estacionamento, ao lado de um caminhão de mudanças, podia-se ler no adesivo colado no vidro lateral do carro: “Tenho orgulho do meu nome comum: Francisco”.

quinta-feira, 14 de junho de 2007

Sofrimento - parte 3

Por Rodrigo Urban

A posição de Francisco começava a se tornar excessivamente desconfortável. Resolveu levantar a cabeça. Ao olhar para frente seu semblante melhorou muito. Sentia-se disposto e vivo outra vez. Esfregou os olhos para ter certeza do que via, era difícil de acreditar. Olhou outra vez para frente e contemplou a linda montanha que buscava quando saiu da cidade. Estava a pouquíssimos quilômetros de distância. Era de um tamanho médio, mas impunha respeito. Sua costa era de um verde absurdamente natural, vindo da vegetação provavelmente nunca tocada. Acelerou o carro, não podia ver a hora de chegar até ela.
Durante o curto trajeto, Francisco se indagou por que não havia reparado na montanha antes. Havia se desesperado no mesmo local que observou a montanha, mas tinha certeza que não havia nada à sua frente. Não, ele estava nervoso demais, a luz tinha ofuscado sua vista. Montanhas não aparecem do nada. Era isso, não tinha percebido antes, só isso.
A estrada acabou. Estranho, terminava no sopé da montanha, e não havia caminho nela para prosseguir a viagem. Francisco desceu do carro, extremamente confuso. Parou em frente a montanha, a observou. Não tinha idéia do que fazer. Não ficara nervoso, porque o fato era estranho demais, ficava nervoso com coisas que tinham explicação e isso, decididamente, não era fácil de se explicar.
Começou a andar de um lado para outro. Olhava para a montanha, olhava para o lado oposto, onde não havia nada. Algo chamou sua atenção. Andou um pouco à esquerda do fim da estrada. Existia uma trilha, um pouco coberta pela vegetação, é verdade, mas era o único caminho que poderia seguir. Sem pestanejar se embrenhou na mata, nem pensara em pegar algo no carro que pudesse precisar, ou trancou o mesmo. Seguia sem rumo, pela estreita trilha que encontrara.
Havia horas que andava. Estava com fome. O sol castigava seu corpo, que respingava suor por todos os lados. O pior é que não se lembrava de passar calor durante a viagem de carro, pelo contrário, recordava-se de um tempo razoavelmente frio. Olhou para os lados, não havia algum sinal de vida animal, um ruído, uma pegada, um piado, nada. Era desolador. Lembrou-se novamente da fome, também não havia um fruto em qualquer árvore a sua volta. Por sinal todas as árvores eram tão parecidas, altas, mas não cobriam o sol, não sobrava espaço para seguir dentro da mata, eram todas muito próximas, ficava muito fechado. Os galhos eram de um tom marrom muito escuro, retorcidos, mas não chegavam a ser sombrios. Mas não podia perder tempo agora, morria de sede e fome. Precisava chegar a algum lugar rapidamente. Prosseguiu a viagem.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Sofrimento - Parte 2

Por Rodrigo Urban

Anoiteceu e Francisco, já cansado e mais confuso e irritado do que antes, gritou com o máximo de sua força:
- Onde está a maldita montanha!
Francisco então freou o carro e, após melhor observar o ambiente ao seu redor, espantou-se. Viu um terreno árido e morto, não havia uma planta, uma construção sequer, tudo iluminado por um único poste de luz sem fios. Intrigante, ele tinha dirigido na mais total escuridão até aquele lugar, olhou para trás e confirmou que não havia nenhum feixe de luz aparente. Abriu a porta do carro e saiu. Estava muito frio. Olhou para dentro do carro. Não havia blusa de frio lá dentro, irritou-se e chutou com violência o pneu do carro. Sentiu então um calafrio horripilante. Paralisou-se e, sem razão aparente, tremendo, entrou de volta no carro e trancou a porta do carro. Pensou em dirigir, mas ao reparar na escuridão total à sua volta decidiu passar a noite ali mesmo. Afinal havia luz. Olhou o poste e imaginou que os fios deveriam estar sob a terra, claro. Tentou não pensar em mais nada, só que se lembrou que desde a cidade não vira nenhum veículo, muito estranho. Dormiu.
Francisco acordou com a ofuscante luz solar batendo em seu rosto. Que horas seriam? Olhou o pulso. Não havia relógio, e seu carro não tinha rádio. Bateu a cabeça no volante três vezes. Escutou um estrondoso ruído, olhou para o lado e viu um gigantesco caminhão passando em altíssima velocidade. Alegrou-se e leu na traseira do caminhão: “Seu Chico mudanças”. – Bom um xará - pensou. Tentou dar a partida, mas o carro não pegou. Pensava em seguir o caminhão, o único sinal de vida desde que ele saíra da cidade. O caminhão sumiu no horizonte. Respirou fundo e virou a chave, o carro pegou. Esmurrou o painel, e pisou no acelerador, com tanta raiva e força como da primeira vez.
Começava a sentir sede ao extremo, não havia nada naquele caminho tortuoso, já haviam passado horas desde que havia visto o caminhão, mas não alcançara nenhum local onde ele poderia ter parado. Não era possível, a velocidade que Francisco estava dirigindo superaria qualquer caminhão, onde estaria aquele que ele observara antes? Pisou com violência no freio. O carro parou com os pneus emitindo um chiado atormentador. Não sabia mais no que pensar, começava a entrar em desespero. Abaixou a cabeça. Ficou assim por um bom tempo.

sábado, 19 de maio de 2007

Sofrimento - parte 1

Por Rodrigo Urban

Francisco verificou os pneus e conferiu o nível do óleo do carro. Tudo em perfeitas condições. É quarta-feira, dia difícil para Francisco, após muitos anos de trabalho árduo havia sido despedido. Precisamos cortar gastos disseram, pro inferno com eles, hipócritas não souberam valorizar seu trabalho, seu esforço, sua vida. Extremamente inconformado e irritado voltara para casa, planejou uma viagem para as montanhas perto de sua casa, sem esposa ou filhos não tinha com quê se preocupar. Avisaria seus pais depois. Eles moravam longe.
Entrou no carro e bateu forte a porta. Da rua observou sua pequena casa, velha com furos e remendos no telhado, janelas quebradas e aspecto de abandono, era incrível pensar que em mais de trinta anos de trabalho só havia conseguido aquilo. O estado deplorável do seu único bem se devia ao serviço, claro, não tinha tempo para nada, quando iria consertar a casa? Esses pensamentos inundavam a mente de Francisco de ira e desespero, descontou no pedal do acelerador, não estava preocupado com multas de trânsito, só queria sossego.
Atingiu cento e quarenta quilômetros por hora, ao passar pelo limite da cidade freou, o carro popular, gasto e judiado pelo tempo derrapou, girou, inverteu sua direção, ficando assim, de frente para a placa da cidade onde se podia ler, com letras grandes, mas não bem feitas: “Bem Vindo a São Francisco da Prosperidade”, Francisco não pode deixar de pensar na infeliz coincidência, afinal pra ele aquela cidade não havia sido nada santa, muito menos próspera. Deu a volta e prosseguiu seu caminho.
Após pouco tempo de viagem já podia observar as montanhas que rodeavam a cidade e pensou em um fato curioso: não se lembrava de ter alguma vez saído da cidade, mas ele não nascera lá, afinal seus pais moravam longe e nunca haviam o visitado. Agora que pensou nos pais, quem eram eles? Não se lembrava de suas feições, ou de algo que porventura teriam feitos juntos, um jantar, um almoço, qualquer coisa. Por mais que se esforçasse não se lembrava, e para piorar conforme ia se aproximando do sopé da montanha sua cabeça era invadida por cada vez mais questões sem respostas aparentes, como: qual era o nome da empresa que ele trabalhou por tanto tempo, não se recordava, assim como também não se lembrava da função que exercera lá e nem de seus colegas de trabalho. Todas essas indagações eram extremamente estranhas e deixavam Francisco cada vez mais confuso conforme o tempo ia passando.
Francisco parou o carro, observava a fonte de água brotando da mais pura rocha, com uma escassa vegetação em volta. Observando melhor ele viu que o local na verdade era um imenso paredão rochoso na beira da estrada, e percebeu que lá não era um bom local para estacionar, afinal um caminhão poderia passar e ocasionar um acidente. Molhou rapidamente o rosto no fino fio de água que escorria e logo entrou no carro. Pisou no acelerador, agora com menos raiva e força do que na saída da cidade, mas mesmo assim atingiu uma velocidade considerável.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Caminho...

Por: Luiz Augusto Manfré

O tempo passa,
Os sonhos se perdem,
Os ideais se corrompem,
O mundo muda,
As pessoas se desvirtuam,
A vontade se acaba,
A busca cessa,
A vida se esvai,
E ninguém se importa.

terça-feira, 8 de maio de 2007

As confissões de Schmidt


Por Luiz Augusto Manfré
Drama/Comédia. 124 minutos, 2002. 2 indicações ao Oscar.
Obra-prima do jovem diretor Alexander Payne, esta brilhante adaptação do livro de Louis Begley conta a história de Warren Schmidt, quando ele se depara com o encontro de inúmeros problemas: a morte da esposa, a aposentadoria e o casamento da única filha com um partido pouco desejado. Durante sua narrativa, Warren se questiona inúmeras vezes sobre sua importância na vida das pessoas. Tal questionamento é respondido de maneira poderosa ao final do filme, dando a ele um desfecho que corresponde com as expectativas do transcorrer da história. A abordagem com um toque de sarcasmo, arranca risos em momentos inusitados. E a interpretação exuberante de Jack Nickolson, que consegue transpor muito bem seus sentidos para além da tela, faz deste filme um dos melhores do gênero cult, lançados nos últimos tempos. O filme também conta com a ótima Kathy Bates (Louca Obsessão) que interpreta uma divertida senhora exótica.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Mais uma tirinha!

Por Rodrigo Urban - Tirinha de Gustavo Amano Ogata
Depois de muito tempo sem postar... voltamos com uma tirinha!

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Estréia!

Por Rodrigo Urban - Tirinha de Gustavo Amano Ogata

Aqui tem início a série de tirinhas que conta algumas histórias de vestibulandos que, de tanto (ou não!) estudar estão... à beira de um ataque de nervos!


sábado, 7 de abril de 2007

A "Força" do Pensamento

Por Luiz Augusto Manfre

“Pense positivo”. “Você conseguirá”. “O pensamento pode tudo”. Essas são as frases que mais estão em pauta ultimamente. Parece que se tornou a mais nova moda para os que buscam uma filosofia de vida no mundo ocidental. Depois de termos passado por uma onda de filosofias orientais, quando estar na moda era ser budista ou xamaista, ou praticar yôga e tai chi chuan (não sei ao certo como se escreve). Agora a moda para a nossa cultura carente de filosofias que ditem uma maneira de se viver mais feliz, é a força do pensamento.
Para isso, temos que nos esforçar muito, concentrar-nos, acreditar de verdade, e as coisas que queremos acontecerão. Mas, essa não é a mesma idéia da fé? Fazer orações, pedir graças e acreditar que elas realmente acontecerão, esse costumava ser um lado da fé. E, alcançar tais graças geralmente era um fato atribuído à santos ou outras entidades. Mas de repente, o homem passou a ser o grande responsável por isso. Agora o grande poder do universo está concentrado dentro da caixa craniana de um primata de tele-encéfalo altamente desenvolvido e polegares opositores (referencia ao célebre curta ilha das flores).
Parece que finalmente o antropocentrismo atingiu seu ápice. Sem querer defender o teocentrismo, e consequentemente ser retrógrado, mas será que somos assim tão poderosos a ponto de podermos tudo o que queremos? Será que o homem é realmente o ser mais evoluído do universo? E será que somos os únicos seres que pensam e têm o poder de levar a cabo aquilo que passa por nossas mentes? Isso não é prepotência demais?
Existem até mesmo cursos para se treinar o cérebro e o pensamento. E os céticos não têm muitas chances nesses lugares, pois, esses têm muitos questionamentos e controvérsias em suas mentes, o que não lhes permite ter certeza de que conseguirão alguma coisa com a força de seus pensamentos. Ou seja, precisamos ser pessoas pragmáticas, pessoas que não rompem paradigmas, e não possuem conflitos para alcançarmos nossos desejos. Mas, o conflito não seria uma coisa inerente, ou melhor dizendo, não seria o próprio pensamento? O fato de não criarmos conflitos, nos traz a uma verdade única e absoluta, será que esse é o grande mistério dessa filosofia?
O sucesso absurdo que o livro “O Segredo”, que ensina maneiras de se conseguir as coisas com a força do pensamento, está fazendo nos EUA – tudo bem, não quer dizer muita coisa – é apenas mais uma mostra da amplitude que está tomando essa “filosofia”. O mais incrível é que essa teoria possui até mesmo uma fundamentação teórica, a física quântica (é um nome que sempre impõe respeito, mas ultimamente começo a duvidar da credibilidade desse ramo da ciência) explica, com teorias mirabolantes, como o pensamento tem força real. Isso pode ser visto no documentário “Quem somos nós?”.
Mas, ainda bem que existe a psicologia (essa é mais abstrata que tudo, mas ao menos responde as coisas de maneira coerente). Para alguns psicólogos, a explicação da força do pensamento está nele mesmo, segundo eles quando acreditamos que algo vai dar certo ou errado, nossas mentes começam a pensar de maneira mais ampla, criando um leque maior de possibilidades, o que facilidade o desfecho pretendido.
Bom, seja qual for a explicação pra isso tudo, talvez o pensamento tenha realmente uma força absurda, que nunca chegaremos a saber o seu tamanho, pois, segundo estudos, usamos apenas uma pequena parcela de nossas capacidades cerebrais. Mas, afinal de contas, fazendo uso do título do filme acima citado, quem somos nós para poder tanto?

segunda-feira, 2 de abril de 2007

O novo rock

Por LFH

Diante das circunstâncias, sinto-me compelido a protagonizar a primeira discordância de opiniões entre nossos articulistas - tá bom, é muita pretensão a minha reinvidicar esse título - na curta vida deste blog. O meu pensamento é basicamente o oposto do expresso no texto anterior. O rock brasileiro atravessa atualmente ótimo momento. Naturalmente, não me refiro ao rock explorado pelas grandes emissoras de rádio e TV, aquele destinado à massa e merecedor jabás e intensa divulgação. O rock mainstream está no limbo já faz um bom tempo e, para falar a verdade, ele cavou a lentamente a sua própria cova. O pivô desta decadência é a Internet, com seus infindáveis mecanismos democratizantes que libertam o amante da música da dependência das FMs - leia-se Myspace, Tramavirtual, Pandora, Allmusic e congêneres. Aos mais incautos, essa alegada democratização e facilidade de acesso talvez pareça uma sustentação paradoxa e elitista demais, principalmente se levarmos em consideração que uma ínfima parcela da população brasileira tem acesso à Web. No entanto, veja bem, estamos falando de rock. Salvo raríssimas exceções, o público brasileiro consumidor deste gênero não é exatamente o que se pode chamar de pé-rapado.

Por sua parcela de contribuição para a subversão das regras do mercado musical, posso dizer sem hesitar que o maior legado de bandas gringas como Strokes e, mais recentemente, Arctic
Monkeys, não são suas boas e energéticas canções, mas sim o espaço aberto e a esperança dada a outros grupos que têm a rede como principal forma de divulgação de suas músicas. Em terras tupiniquins, temos a nossa própria versão do grupo que trilha o caminho inverso do tradicional e estoura antes na Internet para depois cair nas graças das gravadoras, o Cansei de Ser Sexy. Apesar da evidente escrotice e excentricidade das garotas, é difícil negar que elas representam um fenômeno sem precedentes na história da música brasileira.

Seguindo uma tendência internacional, portanto, a atual cena do rock nacional está se consolidando por debaixo dos panos, bem longe dos ardilosos holofotes da grande mídia. O cenário underground impressiona pela organização. Fique bem claro que o termo underground aqui remete apenas ao que é feito à margem do mercado, não guardando relação alguma com a recorrente idéia de tosco e subproduzido. Festivais consagrados, tais com o MADA (Natal), Bananada (Goiânia) e Abril Pro Rock (Recife) dão suporte às bandas independentes, além de deixarem claro que o rock brasileiro não se limita a Brasilia e ao eixo Rio-São Paulo. Se a Internet facilitou o trabalho de divulgação do músico, os avanços tecnológicos no ramo da gravação permitem que qualquer artista registre seu álbum por um preço satisfatório e, o melhor de tudo, com uma boa qualidade. Aquele que não se contenta apenas com distribuição virtual do seu trabalho pode contatar um entre os inúmeros selos independentes disponíveis.

A despeito de tudo o que foi enumerado, pode-se argumentar que a cena independente ainda carece daquela tão almejada originalidade capaz de instigar o ouvinte, influenciar outros artistas e ditar novos rumos. O problema é que o rock nacional nunca, em toda sua história, primou por ser original. Como casos à parte, cito os Mutantes, banda de reputação internacional e inspiradora de artistas célebres como Beck e Sean Lennon; Ronnie Von, para o pasmo da maioria, o tiozão que hoje banca a dona de casa foi responsável por álbuns vanguardistas de pop barroco; os Secos e Molhados, precursores no rock progressivo brazuca; e Chico Science e sua Nação Zumbi, por sua personalíssima fusão de rock e ritmos regionais. Fora essas honrosas exceções, o que se fez aqui foi um arremedo do que se fazia lá fora. Nos anos 60, tínhamos nosso pastiche de Beatles fase 63-65, a famigerada Jovem Guarda. Na década de 80, predominava, sempre com pelo menos 5 anos de atraso, uma cópia inescrupulosa do Punk, do Pós-Punk e da New Wave. O IRA! era claramente influenciado pelo Clash; Dado Villa-Lobos tentava copiar Johnny Marr, e seu coleguinha Renato Russo imitava até os trejeitos de Morrissey; os Paralamas eram confessamente inspirados no Police. Havia também os gaúchos do Nenhum de Nós, cujo maior sucesso foi uma versão para Starman, de David Bowie. Não ser original não é, no meu ponto de vista, um demérito. O trunfo de nossas bandas de rock foi tornar palatável em português um gênero musical concebido originalmente em inglês. Alguém aí imagina um samba cantado em inglês? A ilustração é bizarra, mas a partir dela podemos aferir a ingrata tarefa dos que se metem a cantar rock em português. Muitas bandas, por convicção estética ou por pressão do mercado, mudaram de planos no transcorrer da carreira e resolveram encarar o desafio. Moptop, Gram, Ludov e Violins, só para ficar em alguns nomes, começaram cantando em inglês.

Bem, depois de tanto blablablá, o que afinal tem sido feito de bom? Não posso deixar de citar o Supercordas, que mistura elementos rurais ao pop etéreo praticado pelos Beach Boys em Pet Sounds. Também temos as crônicas metropolitanas do Terminal Guadalupe e o power pop adocicado do ímpar, que rendeu a distribuição do primeiro EP da banda pela maior gravadora americana Not Lame. Isso sem falar na banda Polar e suas composições melodiosas que devem agradar aos fãs de Coldplay.

Antes que me acusem de complexo de indie, conferindo atenção apenas ao que é deconhecido, digo que mesmo no restrito meio mainstream há bons trabalhos sendo realizados. Os Los Hermanos conseguiram superar o estigma de Anna Julia e firmaram uma carreira sólida, conciliando sucesso de público e crítica. Menos aclamados, Fernanda Takai e John Ulhoa vêm dando prosseguimento à viagem do Pato Fu em busca do pop perfeito. O Skank abriu mão das influências jamaicanas e não fez feio quando resolveu rezar pela cartilha dos Beatles (uma boa troca, não?). Quem se lembra do Cogumelo Plutão do hit Esperando na Janela? Depois do fim da banda, alguns de seus músicos se uniram ao vocalista Caio Márcio e, sob o nome de Crase, produziram um álbum calcado no britpop. Lançado por uma major, o trabalho foi pouco divulgado, mas suas canções de apelo pop acentuado descem redondo.

Terminal Guadalupe - Lorena foi Embora
Polar - Lua Nova

Supercordas - Ruradélica
ímpar - Eu Juro

sexta-feira, 30 de março de 2007

À nossa nova música nacional!!!

Por: Pedro G. K. V. M.

Esses dias, numa conversa de bar, rolou um básico papo sobre a nova música brasileira. E é um tanto triste pensar que não existe nada muito promissor vindo nessa nova leva nacional. A música brasileira sempre foi maravilhosa, com compositores e músicos que marcaram épocas. É fácil lembrar de cada momento da música nacional e citar grandes nomes que foram e continuam sendo marcos na nossa cultura, incluindo todos os estilos de música. Tom Jobim junto com Vínicius já estão eternizados há um longo tempo na música. Ao mesmo tempo os Mutantes sempre se mostraram inovadores numa época onde o único tipo de rock que existia aqui era a Jovem Guarda. O samba também teve seus momentos áureos com Cartola, Adoniran, Ari Barroso, Jamelão. Houve, ainda, os festivais da música brasileira, onde novos artistas puderam se opor à ditadura presente. Na década de oitenta, o rock marcando presença total no cenário, com Cazuza, Titãs, Ira, no lado mais alternativo com Ratos, Inocentes, Plebe. Uma grande mudança de cenário na década de noventa com Raimundos, Planet, Chico Science, O Rappa. (Ufa! Depois dessa breve retrospectiva eu cheguei onde queria) E agora? O que marcou a música nacional nesse novo milênio? Sei lá, já estamos em 2007 e pelo que eu me lembre, nada de muito novo surgiu por aqui. Essa década está sendo marcada por uma música pobre, sem aquela mesma ideologia ou a inovação dos anos anteriores. Nosso rock está completamente pobre! Charlie Brown, CPM, Detonautas, sem contar ainda com essa onda emo que impera na mídia. A MPB também não está lá essas coisas, tem muito artista bom fazendo sucesso lá fora, mas aqui você lembra de alguma coisa? Ao meu ver, essa falta de musicalidade fez-se subir à tona uma moda retrô, como os falshbacks das décadas de 70 e 80. Ou ainda essa moda das pessoas ficarem falando: "Ai, eu daria pro Chico Buarque!". É o ressurgimento de artistas que já tiveram a sua marca em algum momento do passado. Não estou dizendo que isso seja ruim, é até bom poder ouvir os Mutantes ao vivo, mas está faltando alguma coisa. Não sei, eu acho que eu estou meio sedento por coisas novas. Algum tipo de som que chame a atenção, e que seja original.

terça-feira, 20 de março de 2007

Ladrão de Sonhos


Por Luiz Augusto Manfré
Fantasia/Drama. 112 minutos, 1995. 1 indicação ao Independent Spirit Award

Da dupla de diretores de O fabuloso destino de Amelie Poulin, Marc Caro e Jean-Pierre Jeunet, este conto de fadas nem um pouco infantil, com excelente fotografia, conta a história de um homem que privado de sonhar passa a roubar os sonhos das crianças das cidades vizinhas.
Para se entender bem a essência deste filme é necessária muita atenção aos detalhes mínimos que por vezes passam desapercebidos dentre a riqueza das imagens.
Duas outras coisas que chamam bastante a atenção neste filme são o ótimo figurino muito bem trabalhado e que, com certeza traduz, melhor do que palavras, o contexto do filme, e os excelentes efeitos especiais, que talvez fossem normais para os padrões de holliwood atuais, mas que estão presentes nesta película fracesa de 1995.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Desconforto

Por Luiz Augusto Manfré

Não aguento mais essa vida,
Não aguento mais essas pessoas,
Não aguento mais tantas coisas que nem consigo enumerar.

Por quê tudo tem que ser desse jeito?
Por quê temos que fazer tudo aos mesmos moldes?
Por quê temos que obedecer sempre as mesmas regras?
Por quê temos que fazer o que não queremos?
Porque temos que viver!

Mas que viver mais esdrúxulo!
Que viver mais insignificante!
Na verdade estamos sendo vividos,
Pois se vivessemos não fariamos o que fazemos,
Faríamos o que sonhamos!

Nós priorizamos os principios e a dignidade,
Nós priorizamos os conceitos que outros fazem,
Nós priorizamos as necessidades não tão necessárias,
Nós só não priorizamos aquilo que realmente queremos.

A liberdade fica perdida,
A verdadeira vontade fica perdida,
O amor pelas coisa fica perdido,
A vida fica perdida...

terça-feira, 13 de março de 2007

Marcha dos Pinguins


Por: Luiz Augusto Manfré
2005. Documentário, 85 minutos. Vencedor de 2 Oscar. Indicado a 3 British Academy Awards.
Premiado documentário mostra todo o caminho que os pingüins percorrem periodicamente, atrás de alimento e a fim de se reproduzir.
Dirigido e roteirizado por Luc Jaquet, jovem cineasta francês, de início parece um clássico documentário da Discovery Channel. No entanto, com o passar de alguns minutos a riqueza dos detalhes e, sobretudo, da fotografia, transbordam da tela a exata essência da qual este filme é feito.
Com a incorporação de algumas personagens por vozes humanas, este filme se tornou premiado e com certeza ganhou muito mais vida.

Regra?

Por Rodrigo Urban

-Não é possivel o senhor sentar-se aqui.
-Como? Mas qual o motivo?
-O senhor não pretende consumir nada.
O pasteleiro da praia falou tão calmamente, mas eu não concordei... inicialmente. Esperneei, falei sobre direitos, comentei que a praia era um lugar público, e eu não tinha culpa se ele colocava suas cadeiras plásticas lá. Pra mim era um local que eu poderia sentar. Foi um bate-boca intenso, mas no fim eu cedi... afinal eu não estava preparado para um confronto direto, se é que vocês me entendem.
Mas não saí de lá satisfeito. Tais regras de comportamento me deixaram pensando por muito tempo, por que só se pode usar as cadeiras da praia, as mesinhas das sorveterias, o banco da praça, se você comprar alguma coisa? Afinal de contas são lugares públicos e, se as pessoas colocam seus assentos lá deduzo que é pra usufruto da população sedenta de descanso. Não consigo entender isso, por que devemos seguir esse tipo de regra. Será que se chegar alguém doente também vão falar: -você não consumiu nada saia daqui! Não duvido, por que já aconteceu comigo. Eu estava passando mal, acho que estava com hipoglicemia. Entrei no bar e comprei uma água. Eis que, no meu desespero hipoglicemético deitei em algumas cadeiras, esperando melhorar logo. - Você não pode ficar aqui!
-Mas ele está passando mal, você não está vendo? - Meu amigo respondeu. Ele é uma pessoa um tanto mais indignada que eu.
-Então chame uma ambulância, aqui não é lugar pra essas coisas.
E olha que eu havia consumido algo!
É muita hipocrisia do ser humano, pois tenho certeza que essas pessoas se enervariam bastante, se elas estivessem do outro lado, mas tratam as pessoa como não gostariam de ser tratadas. Mas não tem problema, afinal de contas essa é uma regra de comportamento e, como tal temos que segui-la, não?

SERÁ QUE VALE A PENA?

Por: Luiz Augusto Manfré

Quem é esse ser estranho que se acha no direito de se intitular como único ser pensante e racional do universo? Quem é esse ser, que se julga superior a todos os outros? Quem é esse ser que manipula todo o meio ao qual está inserido para atingir sua satisfação pessoal? Quem é esse ser, que em alguns momentos, manipula sentimentos e acarreta em dor e tristeza? Quem é esse ser? Esse ser? É o ser humano.

Como é possível um ser, ter tanta presunção e arrogância? Na verdade, não só um ser, mas, atualmente, cerca de 6,5 bilhões de seres têm tal comportamento. Mas por que será? Seria absurdo escrever um texto desse, e ter a resposta. Pois seria o típico comportamento humano: ter a resposta exata para tudo, ser aquele que é o único detentor da verdade.

Há um poema que diz: “A verdade é bela, bela é a verdade”. Mas na verdade, o que é a verdade? Será que ela é tão bela assim? Ao que parece não. Será que essa verdade, que o ser humano possui, pode ser considerada bela? Será que sobrepujar seus semelhantes é belo? Será que condenar o futuro de seus descendentes é belo? Será que presumir que tudo gira em torno de si, esquecendo de todo o resto, é belo?

Mas, este ser humano, detentor da “única” verdade que rege o universo, ser superior a todos os outros, possui em seu maior orgulho seu maior problema. Como ele se considera, único ser pensante, se torna também único ser passível de possuir conflitos.

Esses conflitos são atribuídos à chamada consciência. È ela que lhe confere o senso crítico, é ela lhe traz a insegurança e a dúvida ao tomar atitudes, sejam elas quais forem. Porém, muitos acabam por ignora-la, transformando-a em apenas uma inquietação passageira, que será superada pela grande satisfação de ter atingido o objetivo idealizado.

Por outro lado, alguns dão atenção demais a essa tal de consciência, tentando fazer com que as coisas mudem, se negando a tomar atitudes que vão de encontro com aquilo que elas acreditam. Mas, essa atenção não dura muito, esses poucos nobres que tentar se colocar no mesmo nível de tudo ao seu redor, acabam por se corromper pelo meio, desconsiderando as conseqüências de seus atos.

Mas, afinal de contas, por que será que o meio influência tanto estes poucos nobres que ainda tentar atender aos desejos de suas consciências? Talvez as próprias consciências os levem a isso, pois será que vale a pena lutar com o propósito de mudar tudo que se pensa estar errado? Será que vale a pena, tentar mudar essa idéia de que o ser humano é o topo da escala evolutiva, e que acima dele não existe nada?Será que vale a pena, tentar trazer dignidade aos oprimidos? Será que a humanidade vale a pena? Será que vale a pena viver por ela? Na verdade, seja ela qual for, e se é que ela existe, vale a pena viver?

segunda-feira, 12 de março de 2007

Registro Obsoleto

Por Luiz Fernando

De vez em quando, alguém aqui de casa toma coragem para retirar do armário e desempoeirar as antigas caixas de sapato que guardam nossas não menos antigas fotografias. Quando isso acontece, a família toda invariavelmente se mobiliza exultante para fruir daquele momento que mescla prazer e nostalgia. Como contrapartida, porém, há aquela dose de desconfiança dos que se dão conta de que o pó que tomou conta daquelas fotos é insignificante em relação àquele que se sobrepôs à sua memória. A proeza fascinante de que o registro fotográfico é capaz é exatamente reativar tal setor de nossa memória que já havia sido sutilmente preterido em favor da avalanche de informações com que lidamos - ou com que somos impelidos a lidar - no dia-a-dia.

Até os meus 5 anos e meio, eu fui um fotólatra, por assim dizer. As fotos datadas de 1984 a 1990 parecem ter todas a mim como pretexto. Depois do advento da minha irmã, fui rebaixado de
protagonista para coadjuvante resignado, forçando a barra em busca do prestígio subtraído. Mas, como o tempo é inexorável para todos, minha irmã cresceu e deixou de ser novidade, e eu fui criando consciência social, o que resultou no meu estágio atual de repulsa ao menor indício de flash.

Comportamento anti-social à parte, é impossível deixar de considerar as implicações da fotografia digital em nosso universo sensível. Há pouco mais de uma década, selecionávamos para registro apenas os momentos que realmente nos pareciam especiais. O preço nada módico dos filmes e revelações, além da impossibilidade de avaliar instantaneamente a qualidade da foto, eram os principais empecilhos à profusão das fotografias. Em contraste, hoje, um trivial dia letivo enseja um álbum completo - ainda que geralmente restrito a mídias digitais-, com direito a sumário descarte do clique imperfeito. Tudo ficou mais fácil, mais banal e mais artifical. Minha repulsa à vulgarização da fotografia supera facilmente minha aversão ao flash. O pedaço de papel que deveria servir de muleta para a atuação da nossa castigada memória cada vez mais deixa de retratar e provocar sentimentos, os mais belos e redentores, para representar uma composição de milhares de pixels, uma mera imagem. Sintoma dos tempos atuais? Não sei, mas entre uma simples imagem material e minhas emolduradas abstrações monocromáticas repletas que sentimentos aprazíveis, eu fico com a segunda opção.

domingo, 11 de março de 2007

É tão comum...

Por Rodrigo Urban

Olhou na prateleira acima da cama, muitos CDs. Rock, rap, mpb, até mesmo música sertaneja. Apenas lixo, nada que lhe interessaria naquele momento. Estava triste, queria algo que fizesse chorar. Nunca havia havia comprado nenhum CD com músicas desse tipo. Onde estava com a cabeça! Era claro que um dia precisaria. Se conhecia melhor que ninguém, não era uma pessoa feliz, por que as músicas que escutava haviam de ser? Ilógico.
Sentou na cama, desistiu da música, não tinha muita disposição. Quis chorar de novo. Não conseguiu, mas precisava. Aquela angústia estava o remoendo por dentro, estava a desfazendo aos poucos, era dolorido demais.
Deitou-se devagar, com metade das pernas flexionadas fora da cama, a cabeça pendia no centro da cama, sem o apoio confortável de um travesseiro, não iria pegar um, não tinha forças para isso. Olhou na parede ao lado e observou na estante um antigo e empoeirado brinquedo de sua infância. Saudades daquela época. Apesar de não ter sido uma criança feliz não ter sido uma criança feliz não existiam preocuações, era tão mais fácil viver...
Porque tudo tinha que ser daquele jeito, não se conformava, não era assim que imaginava, tudo era tão triste, falso, tão fútil. Movimentava-se incessantemente de um lado para outra da cama, com tantas desilusões inundando sua mente. Não suportava mais, precisava gritar, se esforçou, abriu a boca o mais que pode, mas não emitiu som nenhum. Nem mesmo um simples e tão necessário grito era capaz de dar. Realmente era uma pessoa extremamente inútil. Atormentava-se tanto, mas não fazia nada. Por que viver? Para nada, para ficar triste pelos cantos? Não tinha em que se apoiar.
Levantou-se da cama da cama, de modo lento e preocupado. Dirigiu-se até a janela do seu quarto, décimo primeiro andar. Olhou para baixo, tantas pessoas, verdadeiros nadas, mal sabiam que elas eram tão inúteis, tão superficiais, tão ridículas...
Passou uma perna por vez pela janela, sentou-se, e sentiu a deliciosa brisa resvalando no seu rosto, isso era algo que valia a pena. As lágrimas começaram a escorrer, e caiam estranhamente suave, através dos onze altos andares do prédio cinza e triste. Finalmente conseguira chorar.
Escutou alguém bater na porta do quarto, não estava trancada, mas não respondeu. A ansiedade tomou conta de seu corpo, e a dúvida principal latejava fortemente em sua cabeça: a vida valia a pena?
A porta rangeu, estava abrindo, escutou-se um grito angustiado a quilômetros de distância, e uma barulho surdo. Mas ninguém se importou, isso era tão comum nos dias atuais...

Não é mais

Por Luiz Augusto Manfré

O que está acontecendo?
A vida já não é como era antes,
As pessoas agem com indiferença,
O mundo já não me traz felicidade

O que está acontecendo?
Os bons momentos se foram,
A alegria se perdeu,
O sentido se esgotou.

O que está acontecendo?
Quem antes era importante já não é mais,
Quem um dia me fez sorrir já se foi,
Quem me fez diferente agora me acha diferente.

O que está acontecendo?
Lugares que me fazem sorrir, me entristecem.
Paisagens que me traziam admiração agora me enojam.
Os edifícios agora tapam o sol,
Sol que já não chega às minhas retinas
Retinas cansadas de ver o que já não me satisfaz.

O que será que aconteceu?
A vida mudou,
As pessoas mudaram,
O mundo mudou,
O que aconteceu?
Só eu que não mudei...

quinta-feira, 8 de março de 2007

O anti-herói americano


Por Luiz Augusto Manfré

2003. Drama, 100 minutos. 1 indicação ao Oscar (Melhor Roteiro Adaptado), 5 indicações no Independent Spirit Award.
Esta biografia cômico-dramática conta a história de Harvey Pekar, um clássico "loser" americano que acaba por se tornar uma figura "cult" ao descrever episódios cotidianos de sua vida em histórias em quadrinhos. Paul Giamatti (Sideways) dá seu toque cômico ao amargo Harvey, enquanto Hope Davis (Lembranças de um Verão e Confissões de Schmidt) interpreta a hipocondríaca e cheia de manias Joyce Brabner.
A dupla de diretores e roteiristas, Shari Springer Berman e Robert Pulcini, faz sua obra-prima com uma maneira diferente de abordar a história, colocando o verdadeiro Harvey, com sua voz rouca, como o narrador, e resgatando imagens dos quadrinhos.

quarta-feira, 7 de março de 2007

O Labirinto do Fauno


Por: Rodrigo Urban

Espanha, década de 40. Ofélia e sua mãe, grávida, se mudam para uma região onde há resistência rebelde à ditadura fascista de Franco. Seu padrasto, um oficial fascista, tenta controlar os rebeldes. Nesse local desagradável ela encontra um labirinto, que será seu mais formidável refúgio.

Simplesmente incrível... vencedor de três oscars este filme merecia também o de melhor filme estrangeiro. A forma como se mistura realidade e fantasia, e como mostra a que a realidade pode ser mais assustadora que as criaturas fantásticas é única. A sensibilidade com que o filme é conduzido é fascinante, mostrando como o principal inimigo do fascimo personificado pelo padrasto de Ofélia pode ser a inocência e criatividade de simples criança. Com um desfecho belíssimo e poético o filme consagra o roteirista, diretor e produtor Guillermo Del Toro. Um filme para não deixar de assistir.


Ficha Técnica

Título Original: El Laberinto del Fauno

Gênero: Suspense

Tempo de Duração: 112 minutos

Ano de Lançamento (México / Espanha / EUA): 2006

Site Oficial: www.panslabyrinth.com

Estúdio: Warner Bros. Pictures / Telecinco / Estudios Piccaso / Tequila Gang / Esperanto Filmoj / OMM / Sententia EntertainmentDistribuição: Warner Bros. Pictures


Roteiro: Guillermo del Toro Produção: Álvaro Augustín, Alfonso Cuarón, Bertha Navarro, Guillermo del Toro e Frida Torresblanco



Ivana Baquero (Ofelia);Doug Jones (Fauno / Homem pálido);Sergi López (Capitão Vidal);Ariadna Gil (Carmen);Maribel Verdú (Mercedes);Álex Angulo (Médico);Roger Casamajor (Pedro);César Vea (Serrano);Federico Luppi (Casares);Manolo Solo (Garcés)

domingo, 4 de março de 2007

Pensar
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Por: Rodrigo Urban


Penso em tudo. Estava pensando, penso demais. Penso em coisas que eu fiz, coisas que deixei de fazer ou que poderia ter feito. Penso no passado, no futuro, no presente. Penso em amigos, amigos que fiz, amigos que deixei, amigos que farei. Penso em momentos, especiais, comuns. Penso em coisas de acabei de presenciar, ou em coisas de muitos anos atrás. Penso quando estou deitado, de pé ou sentado. Penso em paixões perdidas e em outras nunca conseguidas, estas são mais freqüentes. Penso demais.


Estava pensando, penso demais. Passo tempo demais pensando. Penso, muitas vezes em falar, mas não falo. Penso, muitas vezes em fazer, mas não faço. Penso, muitas vezes em ser mas não sou. Penso demais.
Estava pensando, penso demais. Perco tanto tempo pensando e não faço muita coisa. Será que faz mal pensar? Penso nisso às vezes, mas não chego a conclusões. Aliás conclusões não são o forte de quem pensa demais. Quanto mais se pensa mais dúvidas aparecem. Não é tão legal pensar. Penso demais.


Estava pensando, penso demais. Penso em não pensar mas é difícil. Penso sem querer.


Penso e penso e só penso. Penso demais.

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Réquiem para um sonho

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Por: Luiz Augusto Manfre



2000. Drama, 102 minutos. Indicado ao Oscar de melhor Atriz (Ellen Burstyn). 5 indicações no Independent Spirit Award.

Segundo definição do dicionário mais popular da língua portuguesa, réquiem quer dizer celebração fúnebre, a partir do título pode-se ter noção do teor deste filme. A sensação que se tem após assisti-lo com certeza não é a das melhores.

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Do diretor Darren Aronofsky, mesmo diretor de Pi, este filme conta a história do vínculo entre 4 personagens com seus vícios, e como isso sepulta seus sonhos. Com excelentes atuações de Jennifer Connelly (Uma mente brilhante), Jared Leto (O quarto do Pânico) e Ellen Burstyn (Quando um homem ama uma mulher), o que mais chama a atenção neste filme, com certeza, é a edição e a fotografia, que extravasam das telas as sensações dos vícios, e dão vida ao angustiante roteiro de Hubert Selby Junior.

sábado, 3 de março de 2007

Dinheiro, o grande pilar do Darwinismo social
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Por: Luiz Augusto Manfre
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Engraçado, como o comportamento das pessoas muda de acordo com as situações as quais elas são submetidas. Não se mantém um padrão de atitudes. De acordo com o meio, as pessoas se comportam de determinada maneira. E o pior de tudo é que isso que é considerado a normalidade perante os profissionais em comportamento.
Ou seja, é normal as pessoas não serem elas mesmas, e tomarem atitudes de acordo com a necessidade e não de acordo com a sua índole.

É triste pensar que na verdade as pessoas são meras marionetes da sociedade, que a cada dia faz com que elas escondam mais suas essências, deixando de lado seu verdadeiro eu. Mas isso só acontece porque o homem busca incessantemente a sobrevivência, a auto-estima e auto-satisfação, necessariamente nessa ordem, em meio a toda a concorrência à qual ele é exposto em seu dia-a-dia.

Aí caímos na questão do darwinismo social, muitos contestam a existência de tal dinâmica para a sociedade, mas o fato é que ela é real. A sobrevivência, ou melhor, a condição de satisfazer as necessidades básicas do humano, é cada dia mais difícil, e acabamos chegando, infelizmente, a um ponto onde "os mais capacitados" sobrevivem.

Esse quadro é muito visível quando olhamos as pesquisas sobre mortalidade infantil que mostram que os maiores índices são exatamente de regiões onde as condições de vida são péssimas, e a população é paupérrima. E é desta maneira que enxergarmos nossos "mais capacitados", na verdade eles são apenas os que tiveram melhores oportunidades, os que tiveram a felicidade de nascer afortunados com a maior desgraça já inventada pelo homem, o maldito dinheiro.

Pelo dinheiro o homem se esvai, se corrompe, briga, mata, sofre, dedica sua vida. E é a posse dele que determina seu status, é pela posse dele que o homem se expõe às situações mais degradantes, é por essa maldita causa que nossa sociedade é regida. E é por isso que hoje podemos dizer que a nossa sociedade se ajusta a um processo de seleção natural, onde os que possuem maiores quantidades de um papel de procedência duvidável, são os que têm maiores chances de sobreviver e dar continuidade à sua extirpe.

É desolador pensarmos que a cada dia milhares de pessoas morrem por não terem o tão cobiçado papel para comprar comida para sanar sua fome ou medicamentos para curar suas enfermidades. E imaginar que essas pessoas tinham sonhos e vontades, e imaginar suas essências dignas que não se corromperam perante à ganância da sociedade,não passaram por cima de outros semelhantes para conseguir algo, torna mais desolador ainda o quadro em que vivemos, e torna, ainda mais, a existência de cada um dos vencedores, da corrida pela sobrevivência na sociedade, muito menos nobre.
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