sábado, 19 de maio de 2007

Sofrimento - parte 1

Por Rodrigo Urban

Francisco verificou os pneus e conferiu o nível do óleo do carro. Tudo em perfeitas condições. É quarta-feira, dia difícil para Francisco, após muitos anos de trabalho árduo havia sido despedido. Precisamos cortar gastos disseram, pro inferno com eles, hipócritas não souberam valorizar seu trabalho, seu esforço, sua vida. Extremamente inconformado e irritado voltara para casa, planejou uma viagem para as montanhas perto de sua casa, sem esposa ou filhos não tinha com quê se preocupar. Avisaria seus pais depois. Eles moravam longe.
Entrou no carro e bateu forte a porta. Da rua observou sua pequena casa, velha com furos e remendos no telhado, janelas quebradas e aspecto de abandono, era incrível pensar que em mais de trinta anos de trabalho só havia conseguido aquilo. O estado deplorável do seu único bem se devia ao serviço, claro, não tinha tempo para nada, quando iria consertar a casa? Esses pensamentos inundavam a mente de Francisco de ira e desespero, descontou no pedal do acelerador, não estava preocupado com multas de trânsito, só queria sossego.
Atingiu cento e quarenta quilômetros por hora, ao passar pelo limite da cidade freou, o carro popular, gasto e judiado pelo tempo derrapou, girou, inverteu sua direção, ficando assim, de frente para a placa da cidade onde se podia ler, com letras grandes, mas não bem feitas: “Bem Vindo a São Francisco da Prosperidade”, Francisco não pode deixar de pensar na infeliz coincidência, afinal pra ele aquela cidade não havia sido nada santa, muito menos próspera. Deu a volta e prosseguiu seu caminho.
Após pouco tempo de viagem já podia observar as montanhas que rodeavam a cidade e pensou em um fato curioso: não se lembrava de ter alguma vez saído da cidade, mas ele não nascera lá, afinal seus pais moravam longe e nunca haviam o visitado. Agora que pensou nos pais, quem eram eles? Não se lembrava de suas feições, ou de algo que porventura teriam feitos juntos, um jantar, um almoço, qualquer coisa. Por mais que se esforçasse não se lembrava, e para piorar conforme ia se aproximando do sopé da montanha sua cabeça era invadida por cada vez mais questões sem respostas aparentes, como: qual era o nome da empresa que ele trabalhou por tanto tempo, não se recordava, assim como também não se lembrava da função que exercera lá e nem de seus colegas de trabalho. Todas essas indagações eram extremamente estranhas e deixavam Francisco cada vez mais confuso conforme o tempo ia passando.
Francisco parou o carro, observava a fonte de água brotando da mais pura rocha, com uma escassa vegetação em volta. Observando melhor ele viu que o local na verdade era um imenso paredão rochoso na beira da estrada, e percebeu que lá não era um bom local para estacionar, afinal um caminhão poderia passar e ocasionar um acidente. Molhou rapidamente o rosto no fino fio de água que escorria e logo entrou no carro. Pisou no acelerador, agora com menos raiva e força do que na saída da cidade, mas mesmo assim atingiu uma velocidade considerável.

Um comentário:

Anônimo disse...

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