quarta-feira, 23 de maio de 2007

Sofrimento - Parte 2

Por Rodrigo Urban

Anoiteceu e Francisco, já cansado e mais confuso e irritado do que antes, gritou com o máximo de sua força:
- Onde está a maldita montanha!
Francisco então freou o carro e, após melhor observar o ambiente ao seu redor, espantou-se. Viu um terreno árido e morto, não havia uma planta, uma construção sequer, tudo iluminado por um único poste de luz sem fios. Intrigante, ele tinha dirigido na mais total escuridão até aquele lugar, olhou para trás e confirmou que não havia nenhum feixe de luz aparente. Abriu a porta do carro e saiu. Estava muito frio. Olhou para dentro do carro. Não havia blusa de frio lá dentro, irritou-se e chutou com violência o pneu do carro. Sentiu então um calafrio horripilante. Paralisou-se e, sem razão aparente, tremendo, entrou de volta no carro e trancou a porta do carro. Pensou em dirigir, mas ao reparar na escuridão total à sua volta decidiu passar a noite ali mesmo. Afinal havia luz. Olhou o poste e imaginou que os fios deveriam estar sob a terra, claro. Tentou não pensar em mais nada, só que se lembrou que desde a cidade não vira nenhum veículo, muito estranho. Dormiu.
Francisco acordou com a ofuscante luz solar batendo em seu rosto. Que horas seriam? Olhou o pulso. Não havia relógio, e seu carro não tinha rádio. Bateu a cabeça no volante três vezes. Escutou um estrondoso ruído, olhou para o lado e viu um gigantesco caminhão passando em altíssima velocidade. Alegrou-se e leu na traseira do caminhão: “Seu Chico mudanças”. – Bom um xará - pensou. Tentou dar a partida, mas o carro não pegou. Pensava em seguir o caminhão, o único sinal de vida desde que ele saíra da cidade. O caminhão sumiu no horizonte. Respirou fundo e virou a chave, o carro pegou. Esmurrou o painel, e pisou no acelerador, com tanta raiva e força como da primeira vez.
Começava a sentir sede ao extremo, não havia nada naquele caminho tortuoso, já haviam passado horas desde que havia visto o caminhão, mas não alcançara nenhum local onde ele poderia ter parado. Não era possível, a velocidade que Francisco estava dirigindo superaria qualquer caminhão, onde estaria aquele que ele observara antes? Pisou com violência no freio. O carro parou com os pneus emitindo um chiado atormentador. Não sabia mais no que pensar, começava a entrar em desespero. Abaixou a cabeça. Ficou assim por um bom tempo.

sábado, 19 de maio de 2007

Sofrimento - parte 1

Por Rodrigo Urban

Francisco verificou os pneus e conferiu o nível do óleo do carro. Tudo em perfeitas condições. É quarta-feira, dia difícil para Francisco, após muitos anos de trabalho árduo havia sido despedido. Precisamos cortar gastos disseram, pro inferno com eles, hipócritas não souberam valorizar seu trabalho, seu esforço, sua vida. Extremamente inconformado e irritado voltara para casa, planejou uma viagem para as montanhas perto de sua casa, sem esposa ou filhos não tinha com quê se preocupar. Avisaria seus pais depois. Eles moravam longe.
Entrou no carro e bateu forte a porta. Da rua observou sua pequena casa, velha com furos e remendos no telhado, janelas quebradas e aspecto de abandono, era incrível pensar que em mais de trinta anos de trabalho só havia conseguido aquilo. O estado deplorável do seu único bem se devia ao serviço, claro, não tinha tempo para nada, quando iria consertar a casa? Esses pensamentos inundavam a mente de Francisco de ira e desespero, descontou no pedal do acelerador, não estava preocupado com multas de trânsito, só queria sossego.
Atingiu cento e quarenta quilômetros por hora, ao passar pelo limite da cidade freou, o carro popular, gasto e judiado pelo tempo derrapou, girou, inverteu sua direção, ficando assim, de frente para a placa da cidade onde se podia ler, com letras grandes, mas não bem feitas: “Bem Vindo a São Francisco da Prosperidade”, Francisco não pode deixar de pensar na infeliz coincidência, afinal pra ele aquela cidade não havia sido nada santa, muito menos próspera. Deu a volta e prosseguiu seu caminho.
Após pouco tempo de viagem já podia observar as montanhas que rodeavam a cidade e pensou em um fato curioso: não se lembrava de ter alguma vez saído da cidade, mas ele não nascera lá, afinal seus pais moravam longe e nunca haviam o visitado. Agora que pensou nos pais, quem eram eles? Não se lembrava de suas feições, ou de algo que porventura teriam feitos juntos, um jantar, um almoço, qualquer coisa. Por mais que se esforçasse não se lembrava, e para piorar conforme ia se aproximando do sopé da montanha sua cabeça era invadida por cada vez mais questões sem respostas aparentes, como: qual era o nome da empresa que ele trabalhou por tanto tempo, não se recordava, assim como também não se lembrava da função que exercera lá e nem de seus colegas de trabalho. Todas essas indagações eram extremamente estranhas e deixavam Francisco cada vez mais confuso conforme o tempo ia passando.
Francisco parou o carro, observava a fonte de água brotando da mais pura rocha, com uma escassa vegetação em volta. Observando melhor ele viu que o local na verdade era um imenso paredão rochoso na beira da estrada, e percebeu que lá não era um bom local para estacionar, afinal um caminhão poderia passar e ocasionar um acidente. Molhou rapidamente o rosto no fino fio de água que escorria e logo entrou no carro. Pisou no acelerador, agora com menos raiva e força do que na saída da cidade, mas mesmo assim atingiu uma velocidade considerável.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Caminho...

Por: Luiz Augusto Manfré

O tempo passa,
Os sonhos se perdem,
Os ideais se corrompem,
O mundo muda,
As pessoas se desvirtuam,
A vontade se acaba,
A busca cessa,
A vida se esvai,
E ninguém se importa.

terça-feira, 8 de maio de 2007

As confissões de Schmidt


Por Luiz Augusto Manfré
Drama/Comédia. 124 minutos, 2002. 2 indicações ao Oscar.
Obra-prima do jovem diretor Alexander Payne, esta brilhante adaptação do livro de Louis Begley conta a história de Warren Schmidt, quando ele se depara com o encontro de inúmeros problemas: a morte da esposa, a aposentadoria e o casamento da única filha com um partido pouco desejado. Durante sua narrativa, Warren se questiona inúmeras vezes sobre sua importância na vida das pessoas. Tal questionamento é respondido de maneira poderosa ao final do filme, dando a ele um desfecho que corresponde com as expectativas do transcorrer da história. A abordagem com um toque de sarcasmo, arranca risos em momentos inusitados. E a interpretação exuberante de Jack Nickolson, que consegue transpor muito bem seus sentidos para além da tela, faz deste filme um dos melhores do gênero cult, lançados nos últimos tempos. O filme também conta com a ótima Kathy Bates (Louca Obsessão) que interpreta uma divertida senhora exótica.

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Mais uma tirinha!

Por Rodrigo Urban - Tirinha de Gustavo Amano Ogata
Depois de muito tempo sem postar... voltamos com uma tirinha!