quinta-feira, 14 de junho de 2007

Sofrimento - parte 3

Por Rodrigo Urban

A posição de Francisco começava a se tornar excessivamente desconfortável. Resolveu levantar a cabeça. Ao olhar para frente seu semblante melhorou muito. Sentia-se disposto e vivo outra vez. Esfregou os olhos para ter certeza do que via, era difícil de acreditar. Olhou outra vez para frente e contemplou a linda montanha que buscava quando saiu da cidade. Estava a pouquíssimos quilômetros de distância. Era de um tamanho médio, mas impunha respeito. Sua costa era de um verde absurdamente natural, vindo da vegetação provavelmente nunca tocada. Acelerou o carro, não podia ver a hora de chegar até ela.
Durante o curto trajeto, Francisco se indagou por que não havia reparado na montanha antes. Havia se desesperado no mesmo local que observou a montanha, mas tinha certeza que não havia nada à sua frente. Não, ele estava nervoso demais, a luz tinha ofuscado sua vista. Montanhas não aparecem do nada. Era isso, não tinha percebido antes, só isso.
A estrada acabou. Estranho, terminava no sopé da montanha, e não havia caminho nela para prosseguir a viagem. Francisco desceu do carro, extremamente confuso. Parou em frente a montanha, a observou. Não tinha idéia do que fazer. Não ficara nervoso, porque o fato era estranho demais, ficava nervoso com coisas que tinham explicação e isso, decididamente, não era fácil de se explicar.
Começou a andar de um lado para outro. Olhava para a montanha, olhava para o lado oposto, onde não havia nada. Algo chamou sua atenção. Andou um pouco à esquerda do fim da estrada. Existia uma trilha, um pouco coberta pela vegetação, é verdade, mas era o único caminho que poderia seguir. Sem pestanejar se embrenhou na mata, nem pensara em pegar algo no carro que pudesse precisar, ou trancou o mesmo. Seguia sem rumo, pela estreita trilha que encontrara.
Havia horas que andava. Estava com fome. O sol castigava seu corpo, que respingava suor por todos os lados. O pior é que não se lembrava de passar calor durante a viagem de carro, pelo contrário, recordava-se de um tempo razoavelmente frio. Olhou para os lados, não havia algum sinal de vida animal, um ruído, uma pegada, um piado, nada. Era desolador. Lembrou-se novamente da fome, também não havia um fruto em qualquer árvore a sua volta. Por sinal todas as árvores eram tão parecidas, altas, mas não cobriam o sol, não sobrava espaço para seguir dentro da mata, eram todas muito próximas, ficava muito fechado. Os galhos eram de um tom marrom muito escuro, retorcidos, mas não chegavam a ser sombrios. Mas não podia perder tempo agora, morria de sede e fome. Precisava chegar a algum lugar rapidamente. Prosseguiu a viagem.