domingo, 22 de março de 2009

Lixo no rio Pinheiros: um problema ambiental e também financeiro

Por Rodrigo Urban

O Rio Pinheiros é o principal rio localizado inteiramente na cidade de São Paulo (visto que o rio Tietê ultrapassa os limites do município, cortando boa parte do estado) e, como não poderia deixar de ser, sofreu todo o tipo de impacto proveniente do crescimento urbano desordenado e da atividade industrial que levou a cidade à potência latino-americana que é hoje em dia.
Durante o crescimento paulistano o rio mudou de curso, formou represas e foi utilizado para suprir as necessidades de água e energia elétrica da população. Mas também foi utilizado como um imenso esgoto e um grande depósito de lixo.
Atualmente existe uma empresa que faz a gestão do rio Pinheiros, controlando suas cheias e fazendo sua limpeza periódica.
Um estudo desenvolvido pela UNESP procurou estimar os gastos que a empresa gestora tem anualmente com a destinação do lixo retirado em suas quatro usinas (duas localizadas ao longo do curso do rio e duas situadas após a sua foz, já no curso do rio Tietê). Além do lixo proveniente da limpeza periódica feita com barcaças no próprio leito do Pinheiros.
A partir de levantamento de campo e informações cedidas pela empresa pôde-se estimar um gasto anual por volta de R$ 210.000,00 para destinação correta de um montante de cerca de 11.200 metros cúbicos de resíduos, ou 22.400 caixas d’água de 500 litros lotadas de lixo do rio.
Deste total estimam-se gastos de R$ 64.00,00 para destinação de madeira, R$ 3.000,00 para o papel e cerca de R$ 17.000,00 para sapatos e tecidos variados. Todos os materiais descartados de forma inadequada e grande parte que ainda poderiam ser utilizados.
Também existem os materiais plásticos. Por serem materiais “leves” eles não representam grande parte do “peso” do lixo (cerca de 6,9% do total), entretanto são mais de 40% do volume. Cerca de 4.000 metros cúbicos de material que poderia, abastecer indústrias de pequeno porte de reciclagem de plásticos, mas que ocupa espaço em aterros sanitários, entope bueiros e causa prejuízos de cerca de R$ 80.000,00, em vez de gerar receitas.
Mas o problema dos plásticos para a empresa gestora do rio Pinheiros não está apenas na sua disposição. Às vezes sacos plásticos e garrafas PET ficam retidos na grade de contenção das usinas. Por suas características, os plásticos “esticam” de tal forma que produzem uma barreira física que impede a passagem de água em alguns pontos e, consequentemente, as bombas ou geradores da usina de funcionar. Este fato pode gerar avarias nas máquinas do local. É necessário, então, que um mergulhador entre nas águas poluídas do rio, portando um maçarico, para destruir a barreira formada e retomar o funcionamento correto da usina.
E o problema financeiro pode ser ainda maior, uma vez que os dados apresentados são apenas os de custos para a disposição, desconsiderando gastos com mão de obra e a utilização e manutenção de equipamentos.
Nestas estimativas de volume de lixo não são contados os pneus retirados do rio Pinheiros. Para se ter idéia da importância e quantidade dos mesmos, existem empresas que recolhem, de forma gratuita, os pneus (mesmo estando sujos) dos pátios da gestora para reciclá-los ou usá-los como combustível em fornos industriais.
Se considerarmos que a quantidade de lixo retirada representa uma fração pequena frente aos resíduos que ficam anos depositados no fundo do rio, percebemos que o problema é muito maior do que o apresentado. Só nos últimos 15 anos foram retirados cerca de 192.500 metros cúbicos de lixo, apenas das duas usinas principais, ou cerca de 385.000 daquelas caixas d’águas comuns.
Apesar da grande repercussão atual dos problemas ambientais na mídia percebe-se que ainda há grande resistência da população em mudar velhos costumes, ou antigas visões. Por exemplo, pensar que rio está morto e que, portanto, pode ser usado como depósito de lixo. Tais pensamentos só dificultam os processos de recuperação dos rios.
E não se pode esquecer que as empresas que limpam os rios, inclusive aquela que cuida do rio Pinheiros, são empresas públicas estaduais e os seus recursos são provenientes, entre outras fontes, de impostos pagos pela população. Dinheiro que poderia estar sendo usado para outros fins, mas que acaba sendo “jogado no lixo”.