terça-feira, 10 de julho de 2007

Sofrimento - parte 4

Por Rodrigo Urban

A noite começava a cair. E Francisco não se agüentava mais de pé. Esforçava-se ao máximo para andar. Viu então algo que lhe deu forças, fez até mesmo esquecer a sede e a fome. Apertou o passo, quase corria. À sua frente a interminável subida parecia acabar, via-se uma espécie de topo, onde parecia que se iniciaria uma descida. Tinha certeza que era isso, não havia nada mais acima. Melhor tinha certeza que havia civilização logo ali, no começo da descida. Já podia escutar sons, ruídos, de pessoas falando, de carros passando, sentia até mesmo o cheiro de comida sendo feita. Comida para ele. Chegou ao topo.
Francisco caiu de joelhos ao chão. Impossível. Todas as dúvidas voltaram em um relance à sua cabeça. Quem eram seus pais, tinha pais? Onde trabalhava? O que estava fazendo ali, não sabia mais. Por que tudo o que ele viu tinha seu nome? Quanto tempo havia se passado, não fazia a menor idéia. O quê era aquilo à sua frente, o quê?
Olhou novamente para frente, um imenso vazio. A escuridão era total. Talvez um imenso abismo, talvez o nada absoluto. Onde ele estava de verdade? Começava a cair aos poucos no chão, apoiou os braços. O que fez até aqui? Deitou-se no chão. O vazio emitia os sons de uma cidade. O quê era isso? Quem era ele, realmente não sabia. Reuniu suas últimas forças, e apoiado nas suas últimas dúvidas ergueu-se e lançou-se naquele vazio no seu próprio vazio.

- Carlinhos volte aqui – chamava desesperadamente a mãe do menino, que corria sozinho na frente do grupo, sua mãe, seu pai, dois tios e o avô. O pequeno menino parou de repente atônito. Seu pai logo correu para ver o que acontecia. Um corpo jazia à beirada do riacho que corria no terreno plano. O grupo se chocou, não sabiam quem era, mas viam a dúvida e o desespero no rosto dele. Um dos tios correu para chamar o segurança do Horto da cidade. A mãe carregava Carlinhos, e acompanhava o resto dos visitantes para o carro, estava perto, afinal o Horto era extremamente pequeno. Esperaram o tio que faltava e partiram calados. Antes de ir passaram por um carro popular com os pneus murchos parado no estacionamento, ao lado de um caminhão de mudanças, podia-se ler no adesivo colado no vidro lateral do carro: “Tenho orgulho do meu nome comum: Francisco”.