segunda-feira, 2 de abril de 2007

O novo rock

Por LFH

Diante das circunstâncias, sinto-me compelido a protagonizar a primeira discordância de opiniões entre nossos articulistas - tá bom, é muita pretensão a minha reinvidicar esse título - na curta vida deste blog. O meu pensamento é basicamente o oposto do expresso no texto anterior. O rock brasileiro atravessa atualmente ótimo momento. Naturalmente, não me refiro ao rock explorado pelas grandes emissoras de rádio e TV, aquele destinado à massa e merecedor jabás e intensa divulgação. O rock mainstream está no limbo já faz um bom tempo e, para falar a verdade, ele cavou a lentamente a sua própria cova. O pivô desta decadência é a Internet, com seus infindáveis mecanismos democratizantes que libertam o amante da música da dependência das FMs - leia-se Myspace, Tramavirtual, Pandora, Allmusic e congêneres. Aos mais incautos, essa alegada democratização e facilidade de acesso talvez pareça uma sustentação paradoxa e elitista demais, principalmente se levarmos em consideração que uma ínfima parcela da população brasileira tem acesso à Web. No entanto, veja bem, estamos falando de rock. Salvo raríssimas exceções, o público brasileiro consumidor deste gênero não é exatamente o que se pode chamar de pé-rapado.

Por sua parcela de contribuição para a subversão das regras do mercado musical, posso dizer sem hesitar que o maior legado de bandas gringas como Strokes e, mais recentemente, Arctic
Monkeys, não são suas boas e energéticas canções, mas sim o espaço aberto e a esperança dada a outros grupos que têm a rede como principal forma de divulgação de suas músicas. Em terras tupiniquins, temos a nossa própria versão do grupo que trilha o caminho inverso do tradicional e estoura antes na Internet para depois cair nas graças das gravadoras, o Cansei de Ser Sexy. Apesar da evidente escrotice e excentricidade das garotas, é difícil negar que elas representam um fenômeno sem precedentes na história da música brasileira.

Seguindo uma tendência internacional, portanto, a atual cena do rock nacional está se consolidando por debaixo dos panos, bem longe dos ardilosos holofotes da grande mídia. O cenário underground impressiona pela organização. Fique bem claro que o termo underground aqui remete apenas ao que é feito à margem do mercado, não guardando relação alguma com a recorrente idéia de tosco e subproduzido. Festivais consagrados, tais com o MADA (Natal), Bananada (Goiânia) e Abril Pro Rock (Recife) dão suporte às bandas independentes, além de deixarem claro que o rock brasileiro não se limita a Brasilia e ao eixo Rio-São Paulo. Se a Internet facilitou o trabalho de divulgação do músico, os avanços tecnológicos no ramo da gravação permitem que qualquer artista registre seu álbum por um preço satisfatório e, o melhor de tudo, com uma boa qualidade. Aquele que não se contenta apenas com distribuição virtual do seu trabalho pode contatar um entre os inúmeros selos independentes disponíveis.

A despeito de tudo o que foi enumerado, pode-se argumentar que a cena independente ainda carece daquela tão almejada originalidade capaz de instigar o ouvinte, influenciar outros artistas e ditar novos rumos. O problema é que o rock nacional nunca, em toda sua história, primou por ser original. Como casos à parte, cito os Mutantes, banda de reputação internacional e inspiradora de artistas célebres como Beck e Sean Lennon; Ronnie Von, para o pasmo da maioria, o tiozão que hoje banca a dona de casa foi responsável por álbuns vanguardistas de pop barroco; os Secos e Molhados, precursores no rock progressivo brazuca; e Chico Science e sua Nação Zumbi, por sua personalíssima fusão de rock e ritmos regionais. Fora essas honrosas exceções, o que se fez aqui foi um arremedo do que se fazia lá fora. Nos anos 60, tínhamos nosso pastiche de Beatles fase 63-65, a famigerada Jovem Guarda. Na década de 80, predominava, sempre com pelo menos 5 anos de atraso, uma cópia inescrupulosa do Punk, do Pós-Punk e da New Wave. O IRA! era claramente influenciado pelo Clash; Dado Villa-Lobos tentava copiar Johnny Marr, e seu coleguinha Renato Russo imitava até os trejeitos de Morrissey; os Paralamas eram confessamente inspirados no Police. Havia também os gaúchos do Nenhum de Nós, cujo maior sucesso foi uma versão para Starman, de David Bowie. Não ser original não é, no meu ponto de vista, um demérito. O trunfo de nossas bandas de rock foi tornar palatável em português um gênero musical concebido originalmente em inglês. Alguém aí imagina um samba cantado em inglês? A ilustração é bizarra, mas a partir dela podemos aferir a ingrata tarefa dos que se metem a cantar rock em português. Muitas bandas, por convicção estética ou por pressão do mercado, mudaram de planos no transcorrer da carreira e resolveram encarar o desafio. Moptop, Gram, Ludov e Violins, só para ficar em alguns nomes, começaram cantando em inglês.

Bem, depois de tanto blablablá, o que afinal tem sido feito de bom? Não posso deixar de citar o Supercordas, que mistura elementos rurais ao pop etéreo praticado pelos Beach Boys em Pet Sounds. Também temos as crônicas metropolitanas do Terminal Guadalupe e o power pop adocicado do ímpar, que rendeu a distribuição do primeiro EP da banda pela maior gravadora americana Not Lame. Isso sem falar na banda Polar e suas composições melodiosas que devem agradar aos fãs de Coldplay.

Antes que me acusem de complexo de indie, conferindo atenção apenas ao que é deconhecido, digo que mesmo no restrito meio mainstream há bons trabalhos sendo realizados. Os Los Hermanos conseguiram superar o estigma de Anna Julia e firmaram uma carreira sólida, conciliando sucesso de público e crítica. Menos aclamados, Fernanda Takai e John Ulhoa vêm dando prosseguimento à viagem do Pato Fu em busca do pop perfeito. O Skank abriu mão das influências jamaicanas e não fez feio quando resolveu rezar pela cartilha dos Beatles (uma boa troca, não?). Quem se lembra do Cogumelo Plutão do hit Esperando na Janela? Depois do fim da banda, alguns de seus músicos se uniram ao vocalista Caio Márcio e, sob o nome de Crase, produziram um álbum calcado no britpop. Lançado por uma major, o trabalho foi pouco divulgado, mas suas canções de apelo pop acentuado descem redondo.

Terminal Guadalupe - Lorena foi Embora
Polar - Lua Nova

Supercordas - Ruradélica
ímpar - Eu Juro

Um comentário:

Anônimo disse...

Você esqueceu o CSS - Cansei de Ser Sexy. Eu não gosto dos integrantes, acho eles um pé no saco, tirando a LoveFoxxx que é gatinha e tal, mas a música é boa.