sábado, 7 de abril de 2007

A "Força" do Pensamento

Por Luiz Augusto Manfre

“Pense positivo”. “Você conseguirá”. “O pensamento pode tudo”. Essas são as frases que mais estão em pauta ultimamente. Parece que se tornou a mais nova moda para os que buscam uma filosofia de vida no mundo ocidental. Depois de termos passado por uma onda de filosofias orientais, quando estar na moda era ser budista ou xamaista, ou praticar yôga e tai chi chuan (não sei ao certo como se escreve). Agora a moda para a nossa cultura carente de filosofias que ditem uma maneira de se viver mais feliz, é a força do pensamento.
Para isso, temos que nos esforçar muito, concentrar-nos, acreditar de verdade, e as coisas que queremos acontecerão. Mas, essa não é a mesma idéia da fé? Fazer orações, pedir graças e acreditar que elas realmente acontecerão, esse costumava ser um lado da fé. E, alcançar tais graças geralmente era um fato atribuído à santos ou outras entidades. Mas de repente, o homem passou a ser o grande responsável por isso. Agora o grande poder do universo está concentrado dentro da caixa craniana de um primata de tele-encéfalo altamente desenvolvido e polegares opositores (referencia ao célebre curta ilha das flores).
Parece que finalmente o antropocentrismo atingiu seu ápice. Sem querer defender o teocentrismo, e consequentemente ser retrógrado, mas será que somos assim tão poderosos a ponto de podermos tudo o que queremos? Será que o homem é realmente o ser mais evoluído do universo? E será que somos os únicos seres que pensam e têm o poder de levar a cabo aquilo que passa por nossas mentes? Isso não é prepotência demais?
Existem até mesmo cursos para se treinar o cérebro e o pensamento. E os céticos não têm muitas chances nesses lugares, pois, esses têm muitos questionamentos e controvérsias em suas mentes, o que não lhes permite ter certeza de que conseguirão alguma coisa com a força de seus pensamentos. Ou seja, precisamos ser pessoas pragmáticas, pessoas que não rompem paradigmas, e não possuem conflitos para alcançarmos nossos desejos. Mas, o conflito não seria uma coisa inerente, ou melhor dizendo, não seria o próprio pensamento? O fato de não criarmos conflitos, nos traz a uma verdade única e absoluta, será que esse é o grande mistério dessa filosofia?
O sucesso absurdo que o livro “O Segredo”, que ensina maneiras de se conseguir as coisas com a força do pensamento, está fazendo nos EUA – tudo bem, não quer dizer muita coisa – é apenas mais uma mostra da amplitude que está tomando essa “filosofia”. O mais incrível é que essa teoria possui até mesmo uma fundamentação teórica, a física quântica (é um nome que sempre impõe respeito, mas ultimamente começo a duvidar da credibilidade desse ramo da ciência) explica, com teorias mirabolantes, como o pensamento tem força real. Isso pode ser visto no documentário “Quem somos nós?”.
Mas, ainda bem que existe a psicologia (essa é mais abstrata que tudo, mas ao menos responde as coisas de maneira coerente). Para alguns psicólogos, a explicação da força do pensamento está nele mesmo, segundo eles quando acreditamos que algo vai dar certo ou errado, nossas mentes começam a pensar de maneira mais ampla, criando um leque maior de possibilidades, o que facilidade o desfecho pretendido.
Bom, seja qual for a explicação pra isso tudo, talvez o pensamento tenha realmente uma força absurda, que nunca chegaremos a saber o seu tamanho, pois, segundo estudos, usamos apenas uma pequena parcela de nossas capacidades cerebrais. Mas, afinal de contas, fazendo uso do título do filme acima citado, quem somos nós para poder tanto?

2 comentários:

Anônimo disse...

O tal "O Segredo" é, na verdade, um documentário que deu origem a um livro. Pelo que eu li, deve ser uma espécie de charlatanismo de auto-ajuda em formato televisivo.

O sociólogo e colunista Marcelo Coelho fez alguns comentários interessantes numa coluna da Folha:

"...A idéia do documentário, até onde pude acompanhar, parece ser a de que se você quiser muito, mas muito mesmo, ganhar na Mega-Sena, isso vai acabar acontecendo. Se não acontecer, é porque você não teve fé o suficiente.
Desse modo, mesmo o insucesso das estratégias propostas no DVD termina confirmando, se quisermos, a tese original -e aos céticos nada mais resta do que ridicularizar a tese, sem ter como provar o seu absurdo. Pode-se apenas (e como são fracas as luzes da razão!) dizer que uma teoria dessas não tem nenhuma consistência científica, pormenor que não interessa minimamente a seus adeptos."

Anônimo disse...

Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

- Daniel