domingo, 11 de março de 2007

É tão comum...

Por Rodrigo Urban

Olhou na prateleira acima da cama, muitos CDs. Rock, rap, mpb, até mesmo música sertaneja. Apenas lixo, nada que lhe interessaria naquele momento. Estava triste, queria algo que fizesse chorar. Nunca havia havia comprado nenhum CD com músicas desse tipo. Onde estava com a cabeça! Era claro que um dia precisaria. Se conhecia melhor que ninguém, não era uma pessoa feliz, por que as músicas que escutava haviam de ser? Ilógico.
Sentou na cama, desistiu da música, não tinha muita disposição. Quis chorar de novo. Não conseguiu, mas precisava. Aquela angústia estava o remoendo por dentro, estava a desfazendo aos poucos, era dolorido demais.
Deitou-se devagar, com metade das pernas flexionadas fora da cama, a cabeça pendia no centro da cama, sem o apoio confortável de um travesseiro, não iria pegar um, não tinha forças para isso. Olhou na parede ao lado e observou na estante um antigo e empoeirado brinquedo de sua infância. Saudades daquela época. Apesar de não ter sido uma criança feliz não ter sido uma criança feliz não existiam preocuações, era tão mais fácil viver...
Porque tudo tinha que ser daquele jeito, não se conformava, não era assim que imaginava, tudo era tão triste, falso, tão fútil. Movimentava-se incessantemente de um lado para outra da cama, com tantas desilusões inundando sua mente. Não suportava mais, precisava gritar, se esforçou, abriu a boca o mais que pode, mas não emitiu som nenhum. Nem mesmo um simples e tão necessário grito era capaz de dar. Realmente era uma pessoa extremamente inútil. Atormentava-se tanto, mas não fazia nada. Por que viver? Para nada, para ficar triste pelos cantos? Não tinha em que se apoiar.
Levantou-se da cama da cama, de modo lento e preocupado. Dirigiu-se até a janela do seu quarto, décimo primeiro andar. Olhou para baixo, tantas pessoas, verdadeiros nadas, mal sabiam que elas eram tão inúteis, tão superficiais, tão ridículas...
Passou uma perna por vez pela janela, sentou-se, e sentiu a deliciosa brisa resvalando no seu rosto, isso era algo que valia a pena. As lágrimas começaram a escorrer, e caiam estranhamente suave, através dos onze altos andares do prédio cinza e triste. Finalmente conseguira chorar.
Escutou alguém bater na porta do quarto, não estava trancada, mas não respondeu. A ansiedade tomou conta de seu corpo, e a dúvida principal latejava fortemente em sua cabeça: a vida valia a pena?
A porta rangeu, estava abrindo, escutou-se um grito angustiado a quilômetros de distância, e uma barulho surdo. Mas ninguém se importou, isso era tão comum nos dias atuais...

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