domingo, 20 de janeiro de 2008

Gramática, normas e charlatanismo

LFH

Não foi a pedido de meus fiéis e seletos 5 leitores que, depois de um longo período ausente, decidi voltar a postar algo aqui. Tenho andado extremamente desocupado. O ócio, como vocês devem saber, traz consigo um turbilhão de pensamentos, ainda que nem todos estes tenham relevância (vide www.faltadeopiniao.blogspot.com). Meu cérebro, a propósito, funciona melhor quando disponho de tempo livre suficiente para não fazer nada. Bom, vamos ao que interessa. Ou melhor, vamos ao que não interessa, já que é presunção demais achar que as seguintes linhas poderiam interessar a alguém.

(Caso você tenha se interessado, prepare seu saco porque este post será um pouquinho mais longo que o usual)

Hoje vou falar sobre um assunto ao qual tenho me dedicado como diletante desde os saudosos (ou nem tanto) tempos de ginásio: a língua portuguesa. A afinidade com a disciplina já me acompanhava, na verdade, desde os tempos pré-escolares. Por algum motivo, desde criança eu já deliciava com os mistérios de um texto, com aquele universo todo de palavras desconhecidas e também com os diferentes sentidos que uma palavra já conhecia poderia assumir. Percebe-se que minhas excentricidades não são tão recentes assim.

Mais tarde veio o contato com a temida gramática, matéria sempre bem cotada entre as mais odiadas pelos estudantes. A professora responsável era a minha preferida na época e hoje continua a figurar no Top 5 dos melhores mestres da minha vida. Acompanhava atentamente e também tentava, na medida do possível, colocar em prática seus ensinamentos, mas havia uma coisa que me deixava intrigado: será que o aprendizado formal de todas aquelas regras era imprescindível para a produção de um bom texto? Havia exemplos vivos que sustentavam minha desconfiança, já que alguns dos que derrapavam nas provas de gramática eram ótimos escritores;

Talvez por falta de opção, a gramática foi minha única parceira nos estudos de português por mais alguns anos. Confesso que cheguei, em algum momento, a tachar de analfabeto aquele incapaz de conjugar o plural e a menosprezar alguém que emitisse uma construção como "estou meia confusa". Hoje sei plenamente que era apenas uma vítima das noções equivocadas de língua difundidas pela escola e, principalmente, pelos meios de comunicação. Devo isso a meu ímpeto curioso, que me levou a buscar informações mais lógicas, seguras e consistentes a respeito do assunto.

Antes de começar a combater tais noções equivocadas a que me referi, devo dizer que não tenho o costume de me manifestar sobre temas com os quais não tenho alguma intimidade. Charlatanismo e obscurantismo são duas coisas que me causam repulsa. Assim sendo, grande parte das idéias que exporei não representam minha mera opinião subjetiva a respeito do tema. Elas encontram respaldo nos argumentos de pesquisadores bastante respeitados no meio acadêmico. Caso queira discordar de mim, esteja ciente de que estará automaticamente discordando do pensamento científico vigente.

Para fins de introdução (sem malícia), seria interessante fazer algumas considerações a respeito da gramática normativa, aquela que é objeto de estudo na escola (vou chamá-la simplesmente de gramática – já somos íntimos). O que é a gramática? Muitos acreditam que a gramática é o livro que, amparado em noções de certo e errado, dá as coordenadas àqueles que pretendem fazer um bom uso do idioma. É nessa visão distorcida que se encontra a cerne de todas as concepções preconceituosas sobre a língua.

Como qualquer pessoa atenta sabe, cada um das múltiplas situações de comunicação pede uma linguagem particular. O meio científico, por exemplo, exige uma linguagem clara, direta e sem firulas. O marketing, por sua vez, é marcado por uma linguagem instrumental, tão pragmática quanto a postura adotada pelos marqueteiros que a empregam. Em compensação, uma revista voltada aos surfistas abusará de um vocabulário despojado, maleável e repleto de gírias. Portanto, a língua de cada meio social é regida por certas regras tácitas.

E quanto a gramática? Bem, o que a gramática faz é recensear as diversas variedades de uma língua e realizar um juízo de valor sobre as informações encontradas. São nesses juízos que se apóiam as regras estabelecidas por ela. A gramática condena, por exemplo, a marcação de um único plural numa frase como "As pessoa foi" não por uma razão lógico-linguística, mas sim por motivos meramente estéticos. O parâmetro tomado para definir o que é certo e o que é errado (ou o que é bonito e o que é feio) são as normas adotadas por aqueles tidos como os usuários exemplares da língua. São, como já se poderia esperar, os membros das classes sociais mais elevadas e, sobretudo, os literatos de boa reputação. Uma frase usada por um grande escritor pode, aliás, abonar uma construção alheia aos padrões de excelência gramatical. Logo, se Machado de Assis ressuscitasse e escrevesse "A maioria foram...", é bem provável que construção seria imediatamente saudada como uma figura de linguagem genial. Já você, mero mortal, pense duas vezes antes de fazer coisa parecida.

Apesar de sua orientação notoriamente elitista e conservadora, a importância da gramática – uma tradição que remonta à Grécia antiga – não deve ser negada. Nascida como o primeiro documento voltado a descrever uma língua e já perfeitamente consolidada na cultura ocidental, a gramática veicula o que se chama de norma padrão da língua. É a norma em que são – e foram - escritos os documentos oficiais, grande parte dos livros e tantos outros textos produzidos em meios formais, e à qual todos os alunos devem ter o acesso assegurado. Pode-se dizer, portanto, que a norma padrão se constrói acima de todas as outras variedades de um sistema lingüístico.

Reconhecer o valor cultural legado pela gramática não impede, entretanto, que apontemos certos desvios metodológicos e ideológicos presentes nela. Poderia desdobrar-me em questões mais específicas, mas vou ater-me ao que julgo mais relevante. Sendo um instrumento guardião de uma tradição, a gramática demora a absorver as mudanças de rumo numa língua. Em razão disso, há uma disparidade muito grande entre a norma culta e a norma padrão. Aqui vale uma dasambiguação: a norma padrão mira, como já disse, uma língua idealizada, tendo como referência os bons usuários da língua; já a norma culta é aquela corrente entre usuários cultos, grupo que compreende os cidadãos que possuem o terceiro grau completo. Como efeito, continuam a ser desabonadas construções já assimilados pelo padrão culto, tais como “assistiu o filme” e “obedeceu o pai”.

Depois de tanta embromação teórica, vou agora atacar de fato algumas das idéias senso comum que resultaram do louvor excessivo à cultura do certo e errado na língua. São noções que tomaram conta da mídia, das conversas de bar, das comunidades orkutianas e até das discussões entre universitários (não-especializados, diga-se de passagem). Em comum, todas elas revelam preconceito e uma imperdoável falha de análise. Ei-las:

1) Pleonasmo: um pleonasmo nada mais é do que a redundância no âmbito das palavras. É um fenômeno considerado deselegante, impróprio e que motiva muitas piadinhas por parte dos sabichões. “Entra pra dentro, moleque!” causaria arrepios em muita gente por aí. O que é ignorado neste caso é que, apesar da insistência na mesma idéia, há uma dimensão pragmática na frase. Um simples “Entra!” soaria bem menos incisivo e ameaçador. A mãe irritada com o filho sabe inconscientemente disso. Os analistas espertalhões, não. Eles também parecem não se dar conta de que a concordância de número no português é redundantemente redundante (tá, esse jogo de palavras foi péssimo). “As meninas bonitas foram fazer compras” tem quatro marcações de plural. Então, se você abomina redundâncias, marque o plural apenas uma vez: “As menina bonita foi fazer compras”.

2) Gerundismo: o famigerado gerundismo também me irrita, mas isso nada tem a ver com o fato de ele ser uma construção gramatical ou não. Muitos (não-especialistas, em geral) dizem que a moda surgiu de uma tradução inadequada para uma estrutura típica do inglês (“I will be sending” etc.). Improvável. A verdade é que o português brasileiro sempre foi benevolente com as construções no gerúndio, inclusive quando estas não expressam idéias de continuidade ou simultaneidade. Por um lado, o gerundismo me incomoda por predominar em esferas de comunicação burocratizadas e impessoais (no mundo dos negócios, sobretudo), onde o falante está mais preocupado em forjar uma erudição inexistente do que se comprometer com a informação dada. Eu, particularmente, nunca presenciei o tal do gerundismo numa conversa de bar. Por outro, devo ser indulgente, uma vez que tenho percebido que indivíduos das camadas populares recorrem à formula por considerá-la mais elegante, receosos em revelarem, por meio da fala, sua origem social.

3) Conjugações verbais inadequadas: é provável que você já tenha ouvido alguém dizer: “Isso vareia”. Erro grosseiro, não? Agora, como exercício, conjugue rapidamente na terceira pessoa do singular do indicativo os verbos “remediar” e “intermediar”. Remedia e intermedia, correto? Errado. Ocorre que os verbos terminados em –iar não seguem um paradigma fixo. “Variar” se conjuga (na ótica da norma padrão) de forma regular. “Remediar” e “intermediar” se conjugam como o verbo “odiar”. Portanto, “ele intermedeia” e “ele remedeia”. Esses simples exemplos demonstram como estamos sujeitos ao mesmo tipo de erro cometido por aqueles que julgamos ignorantes.

4) Estrangeirismos: foi aprovado recentemente pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados um projeto de lei que busca “promover, defender e proteger a língua portuguesa”. O projeto determina que os meios de comunicação, os estabelecimentos comerciais e a publicidade substituam os termos estrangeiros por equivalentes em português. Num misto de ignorância com ingenuidade, o autor do projeto, o deputado Aldo Rebelo, acredita que o excesso de palavras em inglês que se infiltram no português do Brasil podem dificultar a comunicação e induzir a população ao erro. Ora, uma pessoa é plenamente capaz de entender os termos específicos relacionados a um assunto com o qual ela tenha alguma intimidade, sejam esses importados ou não. Um indivíduo que acompanha regularmente a F-1 sabe, independentemente de dominar o inglês, o que é cockpit, grid, guardrail, pneu slick, entre outros jargões do esporte. Todavia, é provável que a mesma pessoa não entenda os termos vernáculos de um simples contrato de aluguel ou, como convém citar, de um projeto de lei.

Ao defender a permuta da expressão ou palavra em inglês por uma em português, o deputado incorre em outro erro. Como já disse, as palavras, além do significado que encerram, também possuem uma dimensão pragmática. Logo, um termo estrangeiro carrega consigo sentimentos subjetivos associados aos falantes da língua que origina o empréstimo. Deste modo, uma palavra inglês carrega valores como modernidade, avanço tecnológico e justiça, mas também outros como arrogância e imperialismo. Da mesma forma, um termo francês pode conotar requinte, elegância e, por outro lado, pedantismo. Os publicitários sabem muito bem desse apelo das palavras estrangeiras. Não por acaso, revistas destinadas ao público jovem costumam ser batizadas com nomes em inglês (modernidade), enquanto uma famosa revista dedicada às mulheres traz um nome francês (elegância).

Rebelo ignora que usamos a linguagem o tempo todo para demarcar nosso círculo de interlocução. Portanto, quando uma loja de departamento estampa SALE em suas vitrines, pode ter certeza de que não lhe interessa como cliente a pessoa que desconhece aquele termo em inglês. Tenha mais certeza ainda de que um legislador redige em uma linguagem excessivamente rebuscada exatamente para não ser entendido pela maioria da população.

5)O significado de uma expressão é igual à soma do significado de suas palavras: “Os locutores vivem inventando umas expressões bobas, como ‘correr atrás do prejuízo’, usada para o time que precisa virar uma partida. Quem é o maluco que "corre atrás do prejuízo"? As pessoas correm atrás é do lucro.” A declaração é do multimidiático professor Pasquale Cipro Neto, em entrevista à revista Veja. Tido por muitos (leigos, obviamente) como a maior autoridade brasileira em língua portuguesa, Pasquale nem mesmo chegou a completar o curso de Letras. Se o fizesse, talvez teria a percepção ampliada a ponto de notar que o sentido de uma expressão idiomática não é dado pela conjunção dos sentidos literais das palavras que a compõem. Condenar o uso de tais expressões é cercear a criatividade dos falantes e colocar rédeas no dinamismo inerente a uma língua. Professor Pasquale, com todo o respeito, vá pentear macacos!

6)A língua deve subordinar-se à lógica matemática: não estava presente, mas fui rapidamente informado da pérola. Numa dessas aulas da Engenharia, o professor relembrava um famoso slogan usado pelo governo Lula: “Sou brasileiro e não desisto nunca”. Um aluno, com muita sagacidade, imediatamente interveio. Argumentou que a frase deveria ser refeita, pois há nela uma dupla negação que a afasta do sentido pretendido. Assim, “não desisto nunca” equivale a “desisto sempre”. Talvez o rapaz sofra de um inédito quadro de afasia. Engenheiro por vocação, acostumou-se tanto a lançar mão de seu raciocínio lógico-matemático que passou a aplicá-lo em âmbitos que não suportam tal tipo de análise. Uma língua, assim como a matemática, é um modo de representação do mundo real. Um cachorro pode ser representado por meio do código CACHORRO, tal qual um par de tênis pode ser representado matematicamente como 1+1. Supor que uma língua deva submeter-se à lógica matemática é tão estúpido quanto pensar que a matemática deva orientar-se pela lógica de uma língua.

7) Supostas impropriedades lexicais: já ouvi, não me lembro exatamente onde, alguém dizer que um médico não pode tirar a pressão de um paciente, caso contrário este morrerá. Como piada infame, o comentário até passa. O problema se configura quando as pessoas passam a acreditar que realmente é um erro dizer “tirar a pressão”.

O povo tem o poder de modificar uma língua conforme seus desígnios. Neste processo, uma palavra pode agregar transformações e ampliações ao seu sentido, conferindo mais possibilidades para os falantes expressarem uma mesma idéia. Tais transformações ocorrem de forma natural e freqüentemente se incorporam ao nosso vocabulário sem que percebamos. O mesmo cara que torce o nariz para o “tirar a pressão” provavelmente diz sem problemas que “fez a barba” e que “seu carro morreu”.

Todos nós temos determinadas preferências estéticas: uns preferem as loiras, outros as morenas; há quem goste de cerveja, da mesma forma como há quem deteste. Naturalmente, essa preferência também se estende aos usos lingüísticos. Eu, por exemplo, nutro certa antipatia pela a construção “devido a”. Nos meus textos, prefiro formas equivalentes como “em virtude de“, “por causa de” ou “em razão de”. Manifestar preferências é válido. Querer impô-las como verdade universal é fetiche autoritário.

8)Assim se fala porque assim se escreve: um inesperado visitante grego estranhou a forma como pronunciávamos o nome de nosso próprio país. Do alto de sua sapiência, argumentou que havíamos transformado o fonema /l/ em /u/, o que nos levava a erroneamente dizer “Brasiu” em vez de “Brasill”.

O pensamento antiquado não é, entretanto, exclusividade de nosso amigo estrangeiro. Fui vítima de piadas ao declarar, em uma viagem, meu insistente desejo por um porção de “pulenta” frita. De início, achei que fosse apenas uma implicância com o meu sotaque interiorano. Não era. À chacota seguiram-se explicações – tiradas não se sabe de onde - sobre como se deveria pronunciar corretamente o som das vogais, além de outras patacoadas de mesma natureza.

O equívoco, no caso, se dá pela confusão que se faz entre língua e ortografia. A língua é um fenômeno vivo que varia no tempo, no espaço geográfico, nas classes sociais e nas diferentes instâncias de comunicação. A ortografia é apenas uma representação gráfica para a língua falada, uma convenção para fins de unificação da escrita. Acreditar que a língua falava deva submeter-se à escrita é uma deturpação tremenda, típica de quem dá as costas para a ordem e a lógica dos acontecimentos.


Num mundo em que os livros de auto-ajuda ocupam as primeiras posições entre os mais vendidos, não é difícil entender por que a doutrina do certo e errado continua a reinar sem concorrentes quando se trata de língua. Neste e em diversos outros âmbitos do conhecimento, a doutrinação normativa está rapidamente sobrepujando o conhecimento verdadeiro, fruto da reflexão comprometida e do cotejo da informação adquirida com a dinâmica dos fatos do mundo real. Este, ao contrário daquele, exige um tempo de maturação até ser perfeitamente assimilado.

Um rápido passeio pela seção dos best sellers numa livraria pode confirmar como a normatividade nefasta se espraiou para os mais variados terrenos. Dúvidas de português? Consulte o Pasquale. Quer a receita para chegar à riqueza? Leia (ou assista) “O Segredo”. Não sabe o que vestir e como se portar naquela festa de casamento vindoura? A Glória Kalil pode lhe dar bons conselhos. Quer ser líder e, consequentemente, enriquecer? "O Monge e o Executivo" é a pedida certa para você. Afinal, para que pensar por nós mesmos se há quem desempenhe tal tarefa a um preço baixo?

Todos estes distribuidores de pílulas instantâneas do saber têm algo em comum: aproveitam-se da baixa auto-estima de seus alvos para lhes vender a idéia de que possuem deficiências que precisam ser rapidamente corrigidas. O leitor (ou telespectador), convencido de suas supostas debilidades, está então apto para receber as informações que mudarão sua vida. No final do processo, as duas partes ficam satisfeitas. O remediado, vislumbrando poder e liberdade, deixa-se seduzir, mas, sem perceber, passa a depender cada dia mais de suas pílulas; o remediador não só é agraciado com uma vultosa conta bancária como também opera a manutenção das relações de poder e hierarquia vigentes na sociedade. Assim, na surdina, consolida-se o golpe de mestre.

5 comentários:

Dimitrios disse...

I read your text in Google Translator (...globalization). Portuguese translated from google in the most simple English grammar for a greek is a nightmare. Despite the difficulties of the translation I managed to undestarstand (Mais o menos) your thoughts. Yes I am the greek person who argued about Brazil and Braziu.
I agree to most of the parts but I think that your target is wrong. The use of words should be as mature as the writer. Communication is not very different from Politics. In political life we have Laws and judges in communication we have Grammar and professors of language.
Γραμμα (=gramma) in greek it means something that is written ... to get it a little further it comes from the verb "γράφω" (=write) and there is a reason why there are 2 m's. It's for understanding how many independent different meanings are inside a word. It's for our benefit to know the method that the words were made rather that just know the result.
Think about Mathematics....we learn to do calculations not just to memorize the results. The language as an alive thing has to pass through the genearations. Some parts are dead and we don't even know. Many parts are being born this moment and some of them will survive.
Grammar is the set of rules that has to be accepted by everyone and that's a convnention that we had to do to understand each other. The most efficient and reliable way to pass the rules to the next generation is to write. But grammar is just only an instrument of communication. The use of this instrument defines the results. The ancient scripts are still a remarkable way to communicate with our ancestors. We couldn't have cinema now if we didn't have tragedies written.
Anarchy in greek means something without start. Start in greek has the meaning of a great value like kindness for example. Language without rules would be nothing...as we couldn't talk right know. It's not tradition.. an obligation is a NEED. Do you think that you could re-invent computers if somebody didn't invent electricity and if someone didn't do a convention for a word to decribe the phenomenon of electricity?
We all understand how strict have to be the rules ...because a small declination could have serious effects. For example there are sounds in Brazilian laguage that you are not used to talk Θ (=theta) or Δ (=delta). Even modern greeks lost the meaning of the differenes between the six differents i's that they use every day (ι,υ,οι,υι,η,ει)...they all sound the same now but 2000 years ago no!
when we use a word that we don't care to find where it came from or what's the reason of its existence....is the same as using a proved theorem. When we do that very often through the generation we loose the initial meaning and its wisdom. We don't have development. We loose the spiritual findings of our fathers. And why....because we think that it is very difficult. It is but all the things that have a value are a little difficult to reach. Knowledge is power and so does the right use of language. Of course the use of laguage varies and can be used for many reasons...marketing...politics. Grammar is not a tyrrany but a democracy. It's a choice that we make every single day. We vote the rules that we like to use. If we break a rule we have consequencies. But if we break it as nation we have more severe consequencies. I can't understand Portuguese even though Portuguese has many words of the same root with Greek words.
Grammar is just an image of our society...that's the right target. In order to hit the target we have to describe the exact problem. In order to describe we have to know how to use words right...Simplicity comes after complexity. And Complexity comes after simplicity. We have the right to choose only one but we also have the obligation to pass this choice to our children. Maybe they will have the will to find what is hidden behind the words...


Sorry I entered the text to another particle....

Opinião disse...

Para quem há pouco se queixava da escassez de leitores, nada poderia ser mais recompensador que a repercussão de um texto no Velho Continente . Obrigado, Dimitrios, pelo prestígio e pelo empenho em pacientemente decifrar cada uma de minhas palavras. Hei, porém, de discordar de alguns pontos levantados em seu sábio comentário. Já que a língua não parece ser um empecilho, continuarei versando em português.

"It's for understanding how many independent different meanings are inside a word."

Isso se chama polissemia, palavra que chegou à língua portuguesa por empréstimo do frânces polysémie. Um estudo etimológico mais aprofundado remete, no entanto, ao vocábulo grego polúsémos (aquilo que tem muitos sentidos). É um fenômeno comum nas línguas naturais.

"Grammar is the set of rules that has to be accepted by everyone and that's a convnention that we had to do to understand each other."

A gramática tracional (faço a distinção aqui porque mais à frente tratarei de outras gramáticas) é realmente uma convenção social amparada por um conjunto de regras. Como expliquei em meu texto, a gramática deve ser ensinada na escola porque ela veicula a norma padrão, a variedade lingüística de maior prestígio numa sociedade e sob a chancela da qual são produzidos livros, documentos oficiais, contratos etc. Mas, ao contrário do sustentado por você, o domínio das prescrições gramaticais não é imprescindível para a comunicação. Se assim fosse, analfabetos não poderiam se comunicar. Além disso, sabemos que a gramática tem como referência principal a língua escrita dos grandes literatos. Logo, um línguas sem tradição escrita, tais como as praticadas por muitas tribos indígenas brasileiras, estariam a salvo das prescrições normativas da gramática. Será mesmo que os nossos índios são incapazes de se comunicar?

"Language without rules would be nothing...as we couldn't talk right know"

Concordo com o que você diz, mas não com o que parece sugerir. O argumento é bastante óbvio, visto que NÃO EXISTEM línguas destituídas de regras. O erro reside, entretanto, naquilo que você insinua: que uma língua é regida tão-somente pelas regras ditadas pela tal da gramática tradicional. Isso é escancaradamente falso. Para ilustrar a situação, vou recorrer a algumas construções bastante recorrentes no português brasileiro. Talvez você não saiba, mas a norma padrão de nossa língua prescreve a marcação completa do plural:

As meninas bonitas foram ...

Na frase acima, artigo, substântivo, adjetivo e verbo estão conjugados no plural.

A despeito do que diz a Dona Norma, prosperam no português popular formações como:
As menina bonita foi ...
ou
As meninas bonita foi ...

Mas você nunca ouvirá:
A meninas bonitas foram
ou
A menina bonitas foi
ou
A menina bonita foram

Embora estejam à margem do conhecimento gramatical, os falantes claramente seguem regras. O que se observa nos casos citados é que quanto mais à direita estiver o termo, maior a probalidade de que ele receba a marca de plural. A regra não está explicitada em nenhum livro, mas o falante intuitivamente sabe aplicá-la.

Noam Chomsky, o pai da gramática gerativa, defendia que todo ser humano tem uma faculdade de linguagem inata, que é desenvolvida de acordo com seus contatos sociais. Essa capacidade foi chamada por Chomsky de gramática universal. Essa sim é a gramática, um dom biológico, na verdade, que permite que todo indivíduo desenvolva a capacidade de comunicação.

"Grammar is not a tyrrany but a democracy. It's a choice that we make every single day. We vote the rules that we like to use. ...
Grammar is just an image of our society...that's the right target."


Definitivamente, não, meu amigo Dimitrios. A gramática não é uma democracia nem tampouco um reflexo de nossa sociedade. Já resumi o método da gramática em meu texto anterior, e estou bastante preguiçoso para chover no molhado.

Caso se interesse pelo tema, aqui vão minhas recomendações:

Ensino da Gramática. Opressão? Liberdade? - Evanildo Bechara
Língua e Liberdade - Celso Pedro Luft
Por que (não) ensinar gramática na escola - Sirio Possenti
Linguagem Escrita E Poder - Maurizio Gnerre (ainda não o li, mas, a julgar pelas resenhas, parece ser bem interessante)
Revoluções da Linguagem - David Crystal

Opinião disse...

Dimitrios, você gosta de metáforas, certo? Há um paralelo bastante conhecido que relaciona língua e indumentária. Assim como cada ocasião pede uma roupa particular, cada situação, cada gênero lingüístico demanda uma linguagem específica. O maior erro lingüístico não é a violação das regras ortográficas ou gramaticais, mas a inadequação da linguagem à situação de uso.
Nessa metáfora, a norma padrão estabelecida pela gramática pode ser comparada ao vestuário formal, composto por terno, camisa, gravata etc. Houve uma votação em que a população pudesse escolher quais seriam os trajes aceitos em ambientes formais? É claro que não. Tal forma de se vestir é uma herança daquelas que detinham a influência política e econômica. Então quer dizer que devemos nos rebelar e comparecer a uma entrevista de emprego em trajes de banho? É claro que não. A realidade é que, se desejamos ser acolhidos pela sociedade, devemos nos apoderar de alguns símbolos de poder existentes nela. É plenamente possível passar todos os anos de nossa vida sem nunca aprender gramática e nem nunca usar um terno sequer. É claro que dessa forma teremos o acesso barrado em diversos círculos sociais, mas isso não nos impedirá de viver (poderá nos trazer muito desgosto, aflições e problemas financeiros, mas não necessariamente nos levará à morte).
Continuando a metáfora, existem tanto os entusiastas do traje formal aristocrático como os defensores da gramática. Os dois grupos argumentam que tais formas "corretas" de escrever e falar, e de se vestir têm como parâmetro os melhores usuários. Como qualquer um pode perceber, há um juízo de valor aqui. É um critério arbitrário de uma minoria que prevalece sobre uma maioria. Isso é democracia?
Eu não sei como funciona na Grécia, mas, aqui no Brasil, o falante tem pouca ou nenhuma influência sobre a gramática tradicional. Construções usadadas sistematicamente no português há mais de 500 anos continuam a ser desabonadas. No francês, a norma padrão é muito próxima da norma culta, mas infelizmente no português brasileiro há uma disparidade muito grande entre elas.

Por fim, tome a metáfora que citei apenas para esse caso estrito. Usar metáforas é um bom exercício de criatividade, mas, num assunto sério e sem intenções artísticas, o emprego exagerado delas pode acabar surtindo o efeito contrário.

Abraços

Anônimo disse...

Mapol, seu pensamento coincide incrivelmente com o que os professores do Anglo passam atualmente aos alunos: "uma visão moderna sobre a língua".
Bom, até ai, grande autoridade um professor do cursinho! mas o prof chefão, diz a lenda, é um dos maiores lingüistas brasileiros. Um tal de Platão, nome na USP.

Anônimo disse...

Esse Platão é bem renomado, sim. Ele tem uns livros paradidáticos assinados em conjunto com outro lingüista da Usp. Ainda bem que algum sistema de ensino está se dando ao trabalho de divulgar uma visão alternativa (e mais lúcida) àquelas difundidas pelos meios de comunicação e pelo ensino tradicional. O problema é que os alunos não devem aceitar muito bem essa nova abordagem. Pensar o mundo em função da dicotomia certo e errado é muito mais cômodo